Fevereiro é um mês peculiar. Oficialmente, o recesso acabou, o expediente voltou, e a rotina deveria estar a todo vapor. Mas a verdade é que o Brasil opera em um misterioso modo economia de energia até o Carnaval passar. A mente ainda está na praia, o corpo está sentado na cadeira do escritório, e o desafio diário não é exatamente trabalhar, mas sim parecer ocupado enquanto a vida segue em ritmo de samba-enredo.
O truque é dominar a arte das expressões estratégicas. Frases como “Vamos retomar isso depois do Carnaval”, “Precisamos alinhar melhor essa questão”, e “Acho que vale uma reunião para amadurecer a ideia” são poderosos escudos contra qualquer tentativa de produtividade precoce. O segredo não é negar o trabalho, mas transformá-lo em algo vagamente planejado para um futuro que nunca chega.
E como se não bastasse a preguiça generalizada, este ano temos um adversário ainda maior: o calor insuportável que resolveu bater recordes históricos. No Sul, a sensação térmica beira a de um forno industrial, e sair de casa é um teste de resistência. Trabalhar debaixo desse sol escaldante exige um nível de concentração que ninguém tem, já que o cérebro derrete junto com o asfalto. No fim, o esforço maior não é apenas fingir produtividade, mas sobreviver ao expediente sem evaporar na própria cadeira.
E assim o mês segue, com reuniões que poderiam ser e-mails, e-mails que poderiam ser ignorados e um país inteiro que, no fundo, só quer saber se a quarta-feira de Cinzas pode ser esticada até sexta, e se Fernanda Torres vai ganhar o Oscar. No fim das contas, todos sabem que o Brasil só pega no tranco depois do Carnaval. Até lá, seguimos firmes na missão de fingir que estamos a todo vapor, mas no ritmo certo para não suar demais no calor.