Falar sobre a paisagem natural da Serra Gaúcha é um exercício que remete, necessariamente, aos floridos maciços de hortênsias vistos no verão, espalhados pelos barrancos de estradas, praças e jardins das duas principais cidades – Canela e Gramado. O panorama atual das áreas verdes urbanas e periurbanas pouco lembra o cenário original, devido a uma substituição gradativa e radical da flora, e mesmo de fauna, por novas espécies trazidas pelos colonizadores.
A hortênsia talvez seja, depois dos gramados impecáveis e das multicoloridas flores exóticas dos canteiros de ruas, calçadas e casas, o ícone destas mudanças do elemento natural no cenário. A abundância e beleza de suas floradas encanta e cria um cenário mágico, emprestando o nome para designar a região, apesar da sua origem geográfica estar no longínquo oriente, em algum lugar da China ou Japão.
Poucas cidades mantêm, em suas áreas verdes e jardins, uma parcela daquela vegetação original do local de onde a zona urbana se desenvolveu. Qual o motivo? As plantas nativas e selvagens daqui são menos visíveis e atraentes, ao contrário daquelas já há centenas de anos vêm sendo melhoradas pelos especialistas em produção comercial destas plantas. Assim como na agricultura, com as espécies ornamentais também são feitos seleção e cruzamentos com aquelas plantas mais bonitas, perfumadas e coloridas. Já é bem conhecido, no inverno, o consagrado amor-perfeito, uma planta vinda de algum lugar da Europa, como sendo a flor do amor ideal, do tipo romântico e perpétuo manifestado através de suas cores e formas.
No verão, a flor-de-mel com seu perfume doce, derivada de linhagens selvagens das Ilhas Canárias e Açores, e as coloridas e globosas tagetes, vindas do México, estão sempre presentes nos jardins e canteiros. Algumas espécies da flora nativa, de tão belas, aromáticas e encantadoras, também ganharam melhorias genéticas e assim, como as outras, espalharam-se pelo mundo. O brinco-de-princesa, o manacá-da-serra e o cipó-de-são-joão são alguns exemplos, já encontrados na forma de boas mudas em floriculturas da região.
As plantas nativas são rústicas, discretas e com uma beleza a ser descoberta. Um símbolo persistente pelo tamanho e imponência, é a araucária. Esta extraordinária árvore, hoje protegida por lei, é emblemática na paisagem, mesmo na cidade, como se fosse um dos últimos baluartes do cenário raiz, resistindo a madeireiras, raios, tornados e outros inimigos naturais. Outro retrato local, pouco visto, é o Campo Nativo de Altitude, existente ainda em manchas residuais no Parque do Palácio de Canela. São personalidades autóctones, nativas, terrunhas e resilientes que exibem a identidades verde do lugar.