Apreciar uma mata nativa de xaxins é como abrir uma fresta na parede do tempo e espiar o passado. Seus caules marrons, felpudos e macios, folhas gigantes e um perfil primitivo fazem desta árvore uma verdadeira relíquia, um fóssil fora do solo insistindo em viver.
Presentes desde os tempos dos dinossauros, famintos por ervas ou carnes, assistiram as grandes mudanças operadas na paisagem, como a formação do Oceano Atlântico, na lenta separação dos continentes que originou a América do Sul e África. Assistiram ao maior evento vulcânico ocorrido no planeta que culminou com a modelagem do planalto onde está assentada a Região das Hortênsias. A tudo resistiram geração após geração, milênio após milênio, independente do ocorrido em sua volta.
Mais recentemente, foram quase extintos no Rio Grande do Sul, não por vulcões ou outros cataclismos naturais, mas pela exploração excessiva pela mão do homem. Seus caules eram utilizados, no início do povoamento de Canela e outras cidades da região, para pavimentação de ruas e calçadas, na construção de ranchos e, há poucas décadas, para o fabrico de vasos visando o plantio de orquídeas e outras epífitas. Em 2001, o CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) proibiu o corte e comércio de produtos derivados desta e de outras espécies da Mata Atlântica.
Em pouco menos de um século, o homem quase conseguiu extinguir a espécie. Mas ela é resiliente, forte e indiferente ao nosso comportamento exploratório. Vai se mantendo protegida nos grotões e fundos de fazendas, naqueles ambientes de sombra e umidade. É uma planta primitiva sem um sistema eficiente de proteção contra a evaporação da água pelas folhas, sofrendo fácil desidratação quando exposta ao sol. Exemplares, extraídos dos seus ambientes naturais e replantados em jardins de casas, praças e condomínios, ficam prejudicados ou não sobrevivem nestes ambientes ensolarados. É uma questão de estrutura da planta. Talvez por isso o xaxim seja tão longevo, já que adotou, por motivos fisiológicos, este sábio adágio: “Boa é a vida com sombra e água fresca”.
Conheço quatro ou cinco lugares no Rio Grande do Sul onde ainda existem espetaculares e raras matas de xaxins, com exemplares de até oito metros de altura, com centenas de anos e em quantidade inimaginável, formando uma autêntica floresta primitiva. Reservo-me o direito de omitir as coordenadas destes locais, já que fiz um tácito acordo com os xaxins, prometendo-lhes segredo.