(e a roda da história…)
Ela foi a engenhoca mais discutida da época. Conforme matéria sobre o assunto no jornal (ZH 18.10.03), era a “a roda que abrigava a infância enjeitada”.
Na verdade, a roda dos expostos, nada mais era que um mecanismo em forma de roda com uma engrenagem, fixado em um muro, onde por uma pequena porta eram colocadas as crianças recém-nascidas. Após, girava a roda, de modo que aquela abertura onde foi depositada a criança, ficasse do lado de dentro, e assim, a mesma fosse recolhida.
Esse gesto foi repetido milhares de vezes desde a invenção da “roda” em 1837. Estava instalada nos muros da Santa Casa em Porto Alegre e, conforme pesquisas, somente no ano de 1876, 196 bebês foram colocados nela.
Eram filhos recém-nascidos de mães solteiras, prostitutas e mulheres pobres demais que abandonavam aí, anonimamente, os filhos que não queriam ou não podiam criar.
“A roda, era o manto da misericórdia que acolhia os desgraçados espúrios e, o mesmo passo, era a mão de ferro destinada a tapar a boca da maledicência e a evitar o zun-zum do escândalo. Foi o cofre que guardou para sempre, em sigilo inviolável, o epílogo de grandes dramas”, definiu o médico Mário Totta, líder da campanha iniciada para aposentar a roda.
Acusado de anacrônico, cruel e desumano, o mecanismo foi desativado em 1940, encerrando assim, uma história pouco comum de serviços prestados, uma vez que sua função era recolher os abandonados.
Vale lembrar que as crianças colocadas na “roda”, estavam sempre bem arrumadas, muitas em bercinhos, etc. Comparemos com os dias de hoje: a bestialidade humana nos faz ver recém nascidos abandonados em sacolas plásticas, valos, açudes, lixeiras …..
A Roda dos Expostos, foi um dos fatos dos mais curiosos de Porto Alegre e, talvez, o lado mais sombrio da história recente do Rio Grande do Sul.
Um fato: Luciana Maria de Abreu, primeira mulher a subir em uma tribuna no RS para defender a emancipação feminina, saiu da roda dos expostos, onde foi colocada no ano de 1847. Foi professora, integrou o Partenon Literário e discursava sempre em defesa dos direitos da mulher.
Luciana de Abreu morreu em 1880, aos 33 anos, vítima de tuberculose. Seu nome foi dado a uma rua do bairro Moinhos de Vento, em Porto Alegre… na nossa terra!