Quarta-feira estive na Câmara de Vereadores por conta da audiência pública sobre a venda do antigo terreno da fábrica de gaitas, depois Centro de Feiras e hoje, o depósito de quinquilharias da prefeitura municipal e moradia de pessoas de rua.
Algumas coisas me surpreenderam e outras me decepcionaram na reunião. A principal decepção foi a ausência de todos os vereadores que, em tese, são favoráveis a venda do patrimônio público. A prefeitura não ter mandado representante eu confesso que não me surpreendo, afinal, essa tem sido a conduta desde sempre, mas os vereadores me decepcionaram.
Por outro lado, algo me surpreendeu e me deu muita esperança. A contrariedade da venda desde espaço, ela não advém apenas de um grupo de pessoas do centro, que vivem em uma bolha, ou estão interessadas tão somente na defesa de uma cidade bucólica e sem movimento. Ela parece ser um movimento mais amplo.
Cito aqui o depoimento da Tia Onira, pessoa humilde, mas que demonstrou que a visão que parece faltar ao meio político, talvez esteja sobrando entre aqueles que trabalham e vivem da fonte de receita responsável por 85% de nossa economia, o turismo.
A Tia Onira já se deu conta que os movimentos de abandono de equipamentos públicos, que antigamente recebiam eventos, como o Centro de Feiras e o Teatrão, não estão impactando apenas os moradores do Centro. Os abastados e intelectualizados. Ela está afetando o trabalhador dos bairros. Aquele que a prefeitura acredita estar agradando com a venda do Centro de Feiras.
Afeta o trabalhador que vê seu ganha-pão ameaçado pela falta de turistas na loja onde ele, ou sua esposa trabalham. O garçom que não tem clientes para servir, a banquinha de cachorro-quente que vê seu público minguar ano a ano. A realidade é que não basta mais estarmos próximos de Gramado, precisamos criar uma identidade, termos afluxo de turistas e decidirmos para onde queremos ir.
Eu torço para que o projeto de venda do Centro de Feiras não prospere, mas saio da Câmara de Vereadores mais feliz do que entrei naquela noite. Eu saio com a certeza que existe uma consciência coletiva muito maior do que imaginamos. Existem pessoas que acreditávamos estar felizes com o asfalto, o calçamento, mas que na realidade estão mesmo preocupadas com seus empregos e que, aparentemente, compreendem melhor o contexto da cidade do que muitos de nossos políticos.