Um pé de alecrim pode ser o orgulho daquela pessoa apaixonada no preparo de uma refeição dedicada ao consumo da família e dos amigos. Na entrada da casa, junto ao jardim, ou num vaso em uma área interna, ensolarada nas horas da manhã ou da tarde, ajuda na hora de fazer aquele ajuste no tempero de um almoço de domingo. Gosto de utilizar seus ramos com as pequenas folhas e até suas flores minúsculas. Batatas gratinadas com manteiga e azeite de oliva chama um alecrim para liberar aquele seu aroma herbáceo único, inconfundível. O alecrim fica torrado e crocante, sem se importar com seu estado alterado, pois ele sabe do seu sabor e aroma já emprestados às batatas assadas, ficando ele para o deleite de ser estalado nos dentes, como ramos secos e saborosos de uma erva sagrada.
Quando faço uma focaccia, o alecrim é também convidado a fazer parte da massa, tanto na hora do preparo quanto na hora de dispor na forma e montar a preciosa camada elástica do amálgama de trigo, água, azeite, alho e sal sobre a forma, para seu crescimento. Nesta hora o alecrim é o rei, esverdeando a massa cor de creme, destacando-se sobre ela, entremeado com sal grosso, gorgonzola, azeitonas, parmesão e tomates secos. Tudo novamente regado com azeite, pronto para assar. O resultado é um pão fino, achatado com uma crocância e um sabor de emoções.
Planta exótica, originária da região do Mediterrâneo e da Ásia, veio pra o Brasil trazida pelos europeus, onde se adaptou perfeitamente. É utilizada há tempos na medicina campeira e na fitoterapia, sendo, dela, extraídos óleos essenciais, como eucaliptol, cânfora e verbenona, entre outros. Os egípcios a utilizavam nos rituais de mumificação, os romanos a queimavam para purificação de túmulos sagrados, os gregos a tinham com símbolo da imortalidade da alma. Os romanos a chamavam de orvalho do mar, ou rosmarinus, e a ciência acabou batizando-a de Rosmarinus officinalis. Hoje, está distribuída pelo mundo no qual encontrou proteção e ampliação da capacidade de se dispersar, sendo só mais um exemplo de planta aromática e medicinal que despertou a atenção do homem. Um ajudou o outro.
Quando passo pelo pé de alecrim no canteiro da nossa calçada, em frente à casa, vejo pequenas flores azuladas onde pequenas abelhas buscam o pouco néctar produzido como chamariz e fico pensando se estes insetos entendem o nosso desprezo pelas flores em detrimento das folhas. Como será o mel produzido do seu néctar? Terá aquele distinto cheiro e gosto conhecido? Difícil saber, mas uma coisa é certa: ambos gostamos do alecrim e ele de nós.
