DEPOIS DO TEMPORAL, UMA ENXURRADA DE SOLIDARIEDADE
Canela e região buscam recuperar-se dos estragos causados pelas fortes chuvas que atingiram o Estado na última semana. Após os temporais, uma enxurrada de ações solidárias está trazendo esperança e fazendo a diferença para as vítimas das chuvas que tiveram que sair de casa. Muitas pessoas e entidades estão engajadas em campanhas de arrecadações de donativos e recursos financeiros.
Mais de 300 voluntários foram cadastrados e diariamente um grupo é chamado para dedicar esforços para receber, separar e distribuir doações que estão sendo concentradas no Salão Paroquial. Cada doação é cuidadosamente organizada em kits personalizados, levando em consideração as necessidades específicas dos afetados.
Para receber auxílio, as pessoas são encaminhadas aos Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) ou ao salão paroquial, onde assistentes sociais estão disponíveis para auxiliar individualmente cada família, garantindo o respeito e a dignidade em meio à adversidade.
Além dos esforços locais, a solidariedade se estendeu além das fronteiras de Canela. No último final de semana, a Defesa Civil organizou uma ação solidária em apoio aos municípios vizinhos igualmente afetados pelas fortes chuvas. Com milhares de doações arrecadadas, incluindo alimentos não perecíveis, água mineral e itens de higiene, a iniciativa busca aliviar os efeitos das adversidades climáticas nas famílias mais necessitadas.
As doações foram encaminhadas em comboio com apoio das forças de segurança e veículos de voluntários e de empresas que cederam suas frotas para Três Coroas, Igrejinha, Araricá e Novo Hamburgo. A sociedade civil como um todo está mobilizada em ajudar os flagelados. Várias entidades estão promovendo ações solidárias, como o Parque Mini Mundo que realiza a Campanha do Agasalho, A Brocker Turismo e Hasam Móveis estão arrecadando fundos para adquirem MDF para a produção de móveis para as pessoas afetadas pelas enchentes. A Polícia Civil, Loja Maçonica de Canela e a Associação Comercial e Industrial de Canela (ACIC) em conjunto estão arrecadando valores para a aquisição de refrigeradores e distribuição de refrigeradores.
CANELA TERÁ ACESSO A PROGRAMAS E RECURSOS
Canela recebeu apoio dos governos Estadual e Federal após ter sua situação de calamidade pública decretada devido às fortes chuvas. O Decreto N° 10.210, que reconheceu a gravidade da situação, foi homologado pelo Governo Estadual no sábado (4) e posteriormente pelo Governo Federal. Com validade de 180 dias, o decreto coloca a Prefeitura de Canela sob o guarda-chuva do Governo Estadual, permitindo o acesso a programas específicos e recursos para a recuperação.
O prefeito Constantino Orsolin destacou que estão sendo preparados cadastros e registros para a apresentação do Plano de Recuperação, visando habilitar programas de limpeza urbana, assistência social e a liberação do Fundo de Garantia Por tempo de Serviço (FGTS).
MAIS DE 20 TONELADAS DE DOAÇÕES CHEGARAM PELO AR
O Aeroporto Municipal também tem sido um local de recebimento de milhares de doações. Diariamente de dez a 20 aeronaves de pequeno e médio porte pousam trazendo donativos vindos de várias regiões do Brasil, principalmente de Santa Catarina.
“Até o momento já recebemos mais de 20 toneladas de doações entre medicamentos, produtos de higiene, roupas, rações e água,” conta o instrutor de vôo Diego Dornelles. Ele é morador de São Jerônimo, município da Região Metropolitana, que também está sofrendo com as cheias.
“Assim que liberar as estradas vou para a minha cidade para ajudar lá também”, comenta ele. “Oitenta por cento das doações estão vindo de Santa Catarina. Um grupo de pilotos e empresários de Porto Belo chamado Asas Solidárias tem encabeçado as arrecadações e transporte das doações que partem da Costa Esmeralda,” afirma Dornelles. “Em apenas um dia, recebemos cerca de dez toneladas e contamos com o apoio de mais de 30 pessoas para descarregar as doações”, disse.
VOOS SOLIDÁRIOS
O aeroclube também tem auxiliado turistas que não tem como deixar Canela e Gramado por terra ou pelo ar em razão da inundação do Aeroporto Salgado Filho. Os visitantes estão embarcando nos helicópteros ou aviões que aterrizam no aeroporto municipal para deixar suprimentos e retornariam para os locais de partida, sem passageiros. “Estamos conciliando alguns voos. As aeronaves voltam vazias, então organizamos voos solidários. Os turistas têm embarcado para qualquer lugar onde possam pegar voos comerciais para voltarem para casa. Florianópolis, São Paulo e Curitiba têm sido os principais destinos”, explica o instrutor de voo, Fábio Fayz. A Defesa Civil municipal é quem tem direcionado o envio dos mantimentos. Canela, Gramado e Três Coroas são as cidades para onde a maioria das cargas está sendo repassada.
AEROPORTO tem sido um dos pontos de concentração das doações vindas de fora do estado
Foto: Diego Dornelles
FAMÍLIAS QUE DEIXARAM SUAS CASAS SÃO ABRIGADAS PELA PREFEITURA
O mais recente boletim da Defesa Civil municipal, divulgado às 18 horas de quinta-feira (9), informou que 292 pessoas estão desabrigadas, 203 desalojadas, sete feridos e nenhuma desaparecida. Entre as pessoas que tiveram que sair de casa, mais de 50 delas estão temporariamente abrigadas na rede hoteleira. O Hotel Caracol é dos estabelecimentos pagos pela Prefeitura para receber os desabrigados. A maioria são famílias que por determinação da Defesa Civil tiveram que deixar seus lares porque estavam em área de risco de deslizamento de terra no bairro Santa Marta. O Poder Executivo também fornece a alimentação dessas pessoas. As refeições incluem café da manhã, almoço, café da tarde e janta. Várias crianças de zero a 9 anos estão instaladas no hotel. Cada família ocupa um quarto ou acomodações individuais também são disponibilizadas. As doações para as famílias atingidas pelas chuvas podem ser feitas diretamente no Salão Paroquial, Praça da Matriz, 69, das 8h às 17h.Conforme a Defesa Civil roupas serão extremamente necessárias em breve, mas no momento o estoque do órgão está sendo organizado com a ajuda de voluntários dedicados. A solicitação é para que os vestuários sejam guardados para um chamamento futuro, possivelmente no início da semana. As principais necessidades são colchoes, alimentos para cesta básica, material de higiene e limpeza, toalhas de rosto e banho, roupas de cama e água.
“NÃO PODEMOS NOS QUEIXAR, AQUI NÃO ESTAMOS CORRENDO RISCO”
Desempregado Robson Sperb, 35 anos, residia com a esposa e um filho de 12 anos em uma área invadia popularmente conhecida como antigo lixão no bairro Santa Marta. Ele está desde o dia 2 abrigado no Hotel Caracol. “Não podemos nos queixar, aqui não estamos correndo risco. Comparado com o pessoal de outras cidades, temos que erguer as mãos pro céu e agradecer”, comenta ele “Tenho filho e prefiro zelar pela segurança dele, é difícil, não é como estar em casa, mas não temos do que reclamar”, acrescentou Sperb.
ROBSON está zelando pela segurança da família
“VAMOS VER COMO VAI SER DAQUI PRA FRENTE”
Kátia Soares Rosa, 41 anos, destaca que o que foi prometido pela Defesa Civil e a Prefeitura está sendo cumprido referindo-se porque foi convencida a deixar a sua casa no Santa Marta juntamente com mais quatro familiares: uma nora e filhos de 22, 20 e 18 anos. “Fomos bem acolhidos. Aqui estamos em segurança”. Atualmente Kátia está procurando por emprego, e está preocupada com o seu futuro. “Vamos ver como vai ser daqui pra frente”, ressalta.
KÁTIA destaca que foi bem acolhida
“TEMOS QUE AGRADECER PORQUE ESTAMOS RECEBENDO AJUDA”
Entre todas as pessoas que foram instaladas no hotel por conta da força das águas, Jaqueline Hehn, 28 anos, marido e duas filhas foram quem perderam tudo. A casa em que moravam no Santa Marta foi levada por um deslizamento de terra um dia após eles deixarem a residência por solicitação da Defesa Civil. “Se não tivéssemos saído de casa, não estaríamos aqui hoje”, diz Jaqueline. “Num primeiro momento ficamos perdidos. O mundo desmoronou, ficamos sem saber o que fazer. É bem difícil, ninguém quer sair de casa, mas o importante é que estamos vivos”, afirma ela. Jaqueline está insegura quanto ao futuro da sua família em razão da situação que está passando, mas acredita que foi menos atingida que moradores de ouros municípios. “Temos que agradecer porque estamos recebendo ajuda. Pessoas de Três Coroas, por exemplo, estão infelizmente pior que nós. Lá foi a água, não tinha o que fazer,” lamenta Jaqueline.
JAQUELINE e família deixaram casa um dia antes de deslizamento de terra
PSICÓLOGA TEM REALIZADO TRABALHO VOLUNTÁRIO COM DESABRIGADOS
O voluntariado também tem mostrado toda a sua força enquanto Canela e região estão em calamidade. Milhares de profissionais de diferentes áreas estão doando seu conhecimento e tempo para ajudar as famílias que por segurança tiveram que deixar as suas moradias ou que perderam tudo na enchente. A psicóloga em saúde mental, Amanda Rayss Teixeira de Lira Silva, 32 anos, tem auxiliado os desabrigados que estão no Hotel Caracol. “As crianças estão enfrentando o estranhamento do porque estão fora de casa, percebe-se uma facilidade de adaptarem-se, mas dificuldade em entender o que está acontecendo, além da ansiedade causada pela incerteza”, revela Amanda. “Os adultos não estão querendo falar sobreb o assunto no momento. Preocupação financeira em como irão resolver questões de moradia e alimentação são as principais queixas”, salienta Amanda salienta que por estar realizando os primeiros atendimentos não detectou casos graves, mas alerta que as mães com bebês estão relatando as dificuldades que as suas famílias estão passando. “Busco lidar com essas questões de acolhimento. É um momento de muito estresse, sentimentos de vida ou morte”, resume à psicóloga.
AMANDA mostra um dos desenhos das 25 crianças que está auxiliando psicologicamente
PRUDÊNCIA PARA TRAFEGAR PELAS ESTRADAS
A Secretaria de Trânsito, Transporte e Fiscalização faz um alerta importante para quem precisa trafegar pelo interior. As chuvas intensas causaram diversos transtornos, como queda de barreiras, alagamentos, transbordamento de córregos, obstrução de bueiros e bloqueio de várias vias. Por isso, é necessário prudência para transitar de carro pela zona rural da cidade. Somente o acesso a Rota Panorâmica está bloqueado em razão que parte da estrada ruiu. Devido à situação climática no Estado, os Bombeiros estão priorizando o atendimento a ocorrências com árvores caídas em vias públicas ou que tenham atingido residências. É uma medida para garantir a segurança da população e minimizar danos maiores. A Defesa Civil Municipal, Secretaria de Meio Ambiente e Corpo de Bombeiros por meio de nota à imprensa informaram que após vistoria técnica, as áreas de encosta tornam-se áreas de risco em virtude da potencialidade de movimentação de massas (ou deslizamento), devido, entre outros fatores, à ocorrência de chuvas intensas ou contínuas.
Riscos de rachaduras no solo
As condições atuais dos solos, que já se encontram encharcados, e à previsão de chuvas para os próximos dias, é crucial que todos estejam atentos aos sinais de rachaduras no terreno, especialmente em áreas de encostas e relevo mais acidentado, como Santa Marta (Pedreira, Antigo Lixão), São João, Canastra, São Paulo, Rancho Grande e Morro Calçado. As rachaduras no solo são evidências diretas de movimentações que podem representar um risco significativo, especialmente durante períodos de chuva. Por isso, é recomendado que, ao identificar qualquer sinal de rachadura ou movimentação do terreno, a população evacue imediatamente a área de forma preventiva, visando garantir a segurança e preservação de vidas. As forças de segurança que estão atuando no trabalho de prevenção e resgate, solicitam que qualquer local identificado com rachaduras no solo seja prontamente informado à Defesa Civil e Corpo de Bombeiros: Defesa Civil – (54) 9 9135-1949 ou Bombeiros (54) 9 8423-1767.
COM AS ENCHENTES COMEÇA A FALTAR ALIMENTOS E GÁS DE COZINHA
Outro problema que vem ocorrendo está relacionado à alimentação da população. Alguns itens básicos já estão em falta nos supermercados e gás de cozinha a população também está com dificuldade de encontrar. O Rissul, um dos principais do município está retomando o envio de cargas de mercadorias para a unidade de Canela. Conforme Rafael Lubini, gerente de marketing da UnidaSul, caminhões para as lojas da Serra Gramado, Canela e São Francisco) saíram quinta-feira (9) do Centro de Distribuição de Esteio.
ROTA Panorâmica entre Canela e Três Coroas está totalmente bloqueada
O desafio é o tempo de deslocamento do Cd de Esteio até lá. Dependemos das rotas. Perecíveis são os itens mais complicados nesse momento, mas o envio de carnes já iniciou. Óleo e leite estão entre os itens mais procurados, além de água. A previsão é de que o abastecimento normalize na semana que vem, dependendo da previsão do tempo. No setor de hortifruti, na quinta-feira o supermercado só tinha disponível batata, cebola, mamão e banana. A inundação em Canoas prejudicou o fornecimento de gás de cozinha.
VÁRIAS estradas da zona rural precisaram ser desobstruídas
Uma loja recebeu essa semana 40 unidades de gás p13 e vendeu todos os botijões me menos de duas horas. “Costumo solicitar uma carga de 100 botijões por semana em um período normal”, conta Sandro Vacari proprietário da Liquigás em Canela. “A maioria dos funcionários eram da Mathias Velho onde teve a enchente. O gás está vindo do Paraná, está tudo de baixo d’água, todo mundo está com problemas”, lamenta o empresário.
INFORMAÇÕES SOBRE AS ESTRADAS
BLOQUEIO TOTAL:
INTERIOR
Rota Panorâmica – da Cachaçaria do Seu Manoel até divisa com Três Coroas
BLOQUEIO PARCIAL:
Morro Alegre
Rua Alzemiro Boeira do Reis
Estrada Caracol RS 466 – Trânsito em meia pista devido a queda de barreira próximo a localidade do “Pulador”
Estrada dos Bugres
Estrada do Chapadão
Amoreira
Rota Panorâmica – Rodovia Arnaldo Oppitz
Condições das estradas de entrada ao município, fornecidas pela EGR
ERS-235, quilômetro 35 – Canela / Queda de barreira. Trânsito em meia pista. (Próximo ao pedágio de São Francisco de Paula).
EMPRESÁRIA DEFENDE UNIÃO PARA A RETOMADA TURÍSTICA
O turismo é principal economia da Região das Hortênsias, em especial Canela e Gramado. O trade está em busca de alternativas para que o turismo volte a pulsar quando os problemas causados pelo excesso de chuvas passarem. Empresária destaque do setor, Any Boeira, do Grupo Brocker acredita que para a recuperação do turismo local algumas estratégias devem ser adotadas, mas salienta que a segurança e bem estar das pessoas estão em primeiro lugar. “É fundamental na minha visão existir uma união muito forte entre o poder público, setor privado e entidades. Precisamos contratar um profissional de marketing com experiência em crise e assessoria de imprensa para em conjunto estarmos unidos com a mesma estratégia e propósito para a retomada do nosso destino turístico”, opina ela. “Tratando de cada canal de vendas desde o B2B, operadoras e agências, o B2C que é o cliente final. As entidades e secretarias de turismo já estão se movimentando e isso é vital e muito importante”, salienta a empresária. Any também defende a construção de um aeroporto na região. “Se nós tivéssemos um aeroporto nosso, neste momento não estaríamos sofrendo tanto. È mais um momento para refletirmos e fazermos força com governo para voltarmos na pauta de termos o nosso aeroporto”, afirma ela.
ENTREVISTA
Any Brocker, CEO do Grupo Brocker
NE) Qual a perspectiva de prazo para a recuperação do fluxo turístico de fora do Estado?
Any) Estamos recebendo mensagens todos os dias do Brasil inteiro se solidarizando conosco. Se preocupando conosco. Eu acho que em nosso destino turístico vamos receber um fluxo a meu ver de turistas muito bom assim que abrir o aeroporto, assim que as estradas forem restabelecidas. Eu acredito muito que a retomada do nosso turismo será muito boa porque o nosso destino é muito querido no Brasil inteiro. É um destino maravilhoso, e o Brasil está comovido com o que está acontecendo com o Rio Grande do Sul e eu acho que vamos receber um carinho do Brasil inteiro que vai querer nos visitar. Acredito que a partir de junho isso deva acontecer, mas vai depender totalmente da liberação do aeroporto e também das estradas.
NE) A exemplo do movimento dos veranistas de Porto Alegre e Região metropolitana para o litoral, você acha que pode acontecer um movimento semelhante? Existe alguma iniciativa para que isso ocorra?
Any) Com certeza. Amigos meus que tem apartamento ou casa aqui, alguns estão se movimentando para vir para cá porque Porto Alegre pediu inclusive que as pessoas saíssem um pouco de lá. Eu acredito que até que as regiões afetadas se restabeleçam eu acredito que sim, e já vejo essa movimentação. Até o momento ninguém tomou essa iniciativa para as pessoas virem para cá, mas acredito que isso vai acontecer.
NE) De que maneira o setor turístico pode contribuir para o bem-estar da comunidade local neste momento, promovendo não apenas a recuperação econômica, mas também o fortalecimento dos laços comunitários?
Any) Isso já está acontecendo e muito forte. Todos mundo está se movimentando e ajudando. As pessoas estão fazendo doações, muitos voluntários indo para Três Coroas e Igrejinha ajudando a limpar as casas, mutirões. É a mínima maneira que as pessoas que não foram tão atingidas ou não foram nada atingidas podem se sentir um pouco melhor diante de toda essa tragédia que todo mundo está passando. È um desafio estar empresário hoje, mas temos que pensar em ajudar quem mais precisa e já pensar na retomada.