Ano de eleições municipais e as conversas mudam o tom. Não é agudo, nem grave, é tom de pergunta sem resposta. Cultura dá voto? Obra dá voto? Como se garante o número necessário de votos para eleger um vereador e um prefeito? Mulher consegue voto? E política pública, que beneficia uma comunidade? Dá mais voto que doação de bujão de gás, em véspera de eleição?
Em coluna de jornal não cabe uma análise histórica, mas sabemos, na prática, que eleição no Brasil é baseada na troca de favores individuais e não na contemplação de necessidades coletivas. Certo ou errado? Depende dos valores que escolhemos para viver a vida. O jornalismo me ensinou a olhar pela minha comunidade. Se algo vai errado na minha cidade, algo vai errado na minha vida também. Como conviver com a fome alheia? Ou como encarar a falta de informação para a grande maioria, no intuito de limitar serviços que possam facilitar a vida de todos? Sendo mulher aprendi que se luta pela igualdade, principalmente de oportunidades profissionais e de salários. Como manter um padrão de vida regular, se a condição de ser mulher me impede de alcançar espaços profissionais já caminhados por homens?
Não é discurso de idealista, é realidade vivida. É acordar todo dia, levar filha na escola, pensar no almoço, planejar os gastos do mês, manter a leitura em dia, ouvir notícias, comentar sobre o que se vê e o que se imagina como ideal. É sonhar que a poesia poderia preencher o vácuo dos silêncios, que recebemos diariamente. É mentalizar um mundo onde a fome é coisa do passado e a intolerância é chamamento para o diálogo.
2024 é ano para refletirmos sobre o que queremos nos próximos anos. Iremos trilhar este caminhar sozinhos, deixando araucárias serem derrubadas e artistas calados ou definitivamente daremos o primeiro passo para uma nova construção de sociedade? Se posicionar perante nossas escolhas é ato totalmente político. Cimento vota. Política pública vota. Araucária vota e cultura também vota. Com um detalhe: voto cultural é poético e bonito.