Quando eu ainda estudava Biologia, lá no final dos anos 1970, fui assistir a uma palestra sobre novos métodos da Genética para a identificação de espécies de plantas e animais. Assunto quente, novo e cheio de desafios, reuniu acadêmicos, como eu, profissionais da área, outros biólogos interessados e, principalmente, professores renomados e com vasta experiência em pesquisa e magistério na academia. Após uma longa exposição, instigante e complexa, passou por nós um professor querido e respeitado por todos, e disse: Isto é para vocês, já não consigo me atualizar neste assunto tão novo e complexo. Fiquei pensando naquela frase por muito tempo, tentando entender o motivo que levou aquele famoso professor a proferir aquilo.
Passados 40 anos, estive numa situação semelhante àquela, mas agora o profissional decano, era eu. Durante vinte e tantos anos administrei e joguei toda minha energia profissional e criativa no Projeto Loboguará, dando a ele forma e sentido. Fiz o melhor para ensinar a Educação Ambiental aos jovens e adultos em ambientes naturais, fora da sala de aula convencional. Até criei um slogan: Nossa sala de aulas não tem paredes nem telhado. A chuva e o vento passam livres e o chão é forrado de folhas, galhos e pequenos animais. O som ambiente é produzido pelas flautas do vento e pios e gritos da fauna. A nossa sala de aulas é a natureza.
Chegou um momento da minha experiência de vida que me fez lembrar a palestra do final dos anos 1970. Vi, adiante, um mundo com pressa e muitas novas ideias e formas de ensinar surgindo e, resignado, assustado, mas consciente, fiz como aquele meu velho e sábio professor, e falei: Cheguei no meu limite de capacidade de criação neste trabalho. Passo o bastão para ti, meu filho, pois te vejo como uma promissora possibilidade de oxigenação com novas ideias e rumos. Assume e segue.
Desta forma, a administração do Projeto Loboguará passou às mãos do meu filho João Pedro Travi, também Biólogo, carregado de muitas ideias novas nesta complexa área de educação. Na sequência, firmou-se uma parceria sólida com a Brocker Turismo e, mais recentemente, foi criada a ONG Loboguará, o passo definitivo para alcançar novos horizontes. Passar o bastão é uma decisão difícil, mas necessária.
Meu filho e os colegas da nova ONG têm, agora, a tarefa de abrir novos caminhos e seguir com a Educação Ambiental em níveis jamais imaginados. Tem hora para tudo, tem gente para tudo. Se vivo ele estivesse, perguntaria, ao meu saudoso professor da PUC daquele tempo, o que ele fez depois de nos passar o bastão. E eu? Por vício de profissão, continuo mostrando e ensinando a natureza para um universo ainda maior, através dos meus livros e crônicas no Jornal Nova Época. Assim é a vida.
