Ao pé da Cordilheira dos Andes, na Patagônia Argentina, há uma cidade turística pequena e simpática chamada El Calafate. Assim como Canela, tem como uma de suas características, oferecer a natureza como seu carro chefe, tanto no verão quanto no inverno. Com hotéis, pousadas, albergues e restaurantes, acolhe milhares de visitantes de todo o mundo.
O entorno da cidade é idílico. Montanhas à oeste, o lago Argentino ao norte, e a estepe patagônica, árida e rasteira, estende-se à leste. Isto basta! Das montanhas da cordilheira brotam mananciais de água oriundas do derretimento dos inúmeros glaciais, aqueles depósitos de neve de centenas de anos espremidos entre as montanhas. Lentamente vão liberando a água e criando lagos e rios.
A lagoa Nimes, uma pequena baía pertencente ao lago Argentino localizada próximo à cidade, foi transformada em um santuário de fauna e flora. Cisnes-de-pescoço-negro, cisnes-de-pescoço-branco, marrecas, colhereiros e uma grande variedade de outras espécies, tanto residentes como migratórios, desfilam nos rasos da lagoa encantando os visitantes. Tudo próximo, fácil de observar, organizado e limpo, com farto material de apoio, tanto em forma de impressos como de dioramas. Tirando as montanhas, lembrou-me o Taim e seus banhados ricos em fauna.
Nos restaurantes impera o famoso prato regional, o cordeiro patagônico, assado sempre a vista dos comensais em churrasqueiras vitrines. Pedaços generosos desta carne saborosa e macia são servidos e acompanhados de uma generosa salada mista de alface e tomates. O arremate vem por conta do pão e uma generosa porção de batatas fritas. Impossível esquecer!
Saindo da cidade, em direção à cordilheira, chega-se ao ponto máximo da região. É um daqueles lugares que fazem a marca da cidade, como em Canela temos o Caracol e a Catedral. Falo do Glaciar Perito Moreno, localizado dentro do grande Parque Nacional dos Glaciares, uma parede móvel de gelo acumulado por séculos, todo ano desprende blocos gigantescos de neve comprimida bem à vista de todos. O lugar impressiona pelo frio, pelo som grave da quebra dos blocos do gelo pintados de branco e azul se debulhando em estrondos e respingos. Fiquei imaginando a idade daquela geleira, agora caindo aos pedaços e formando pequenos icebergs que seguem calmos pelo Lago Argentino, liberando água para percorrer a árida Patagônia pelo leito do Rio Santa Cruz, até o mar. A infraestrutura oferecida ao visitante, com suas excelentes passarelas metálicas, é comparável àquela dos melhores parques internacionais, com segurança, organização e possibilidade de acesso aos lugares incríveis com o mínimo de impacto e o máximo de conforto. Um exemplo de como explorar um recurso natural visando o turismo sustentável, sem degradar ou comprometer o elemento cênico.
Para aumentar a compreensão dos visitantes, foi criado um parque fechado chamado Glaciarium, onde se pode ver, ouvir, ler e entender tudo sobre as montanhas, os glaciares e a dinâmica do frio. Um lugar impressionante onde se percorre um circuito interno a diversos nichos com vídeos, slides, painéis e dioramas. Local de puro encantamento e conhecimento. Um saludo a El Calafate.