ENTREVISTA COM MÁRCIO RIBAS

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Arquitetura e Urbanismo para um Futuro Sustentável

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No cenário atual, onde as mudanças climáticas e os desastres naturais se tornam cada vez mais frequentes, a arquitetura e o urbanismo desempenham um papel crucial na construção de cidades resilientes e sustentáveis. Para discutir essas questões, entrevistamos Márcio Luiz Oppitz Ribas, um renomado arquiteto e urbanista com vasta experiência em projetos urbanos, destinos turísticos, economia circular e desenvolvimento sustentável. Sócio proprietário da MR Arquitetura da Paisagem Ltda., Márcio é graduado pela UNISINOS e possui diversas especializações, incluindo Desenvolvimento Sustentável e Economia Circular pela PUC-RS. Nesta entrevista, ele compartilha suas perspectivas sobre como o conceito de “green building” pode ajudar a mitigar os impactos das catástrofes climáticas no Rio Grande do Sul, as diretrizes essenciais para o planejamento urbano em áreas vulneráveis, e os desafios e oportunidades que a Serra Gaúcha enfrenta com a possível migração de populações afetadas pelas enchentes. Além disso, Márcio aborda a ocupação de encostas em áreas urbanas e sugere medidas para mitigar os problemas enfrentados pelas cidades em relação à ocupação inadequada de áreas de risco. Acompanhe a seguir suas respostas detalhadas e insights valiosos para um futuro urbano mais seguro e sustentável.

NE: Sr. Márcio Ribas, considerando as recentes catástrofes climáticas que têm afetado o Rio Grande do Sul, especialmente as enchentes em áreas ribeirinhas, como o conceito de green building pode contribuir para a resiliência dessas regiões? Quais práticas de construção sustentável poderiam ser implementadas para minimizar os danos causados por eventos climáticos extremos?

Ribas: A pergunta é simples, mas a resposta é complexa e um tanto difícil de sintetizar nesta entrevista. Mas vamos lá. Primeiro, precisamos considerar como essas edificações serão implantadas nos nossos territórios, sempre avaliando seu impacto nos ecossistemas e na escala da cidade. Antes de avaliar o sistema construtivo ou de engenharia, precisamos avaliar questões regionais quanto, a topografia, geologia, hidrografia, ou seja, respeitar o ambiente natural. Logo após deveria vir a técnica construtiva para considerar todas as condicionantes ambientais. Contudo, para as nossas edificações, o conceito de green building, evidentemente, pode ajudar as cidades se tornarem mais resilientes frente às enchentes, e outras catástrofes climáticas. Práticas poderiam incluir elevar edificações para evitar danos pela água, usar materiais resistentes e acabamentos impermeáveis, implementar sistemas de drenagem eficientes e captação de água da chuva, plantar vegetação nativa e criar telhados e paredes verdes. Além disso, é importante projetar estruturas modulares e espaços multifuncionais, instalar sensores de inundação e sistemas de alerta precoce, utilizar painéis solares e sistemas de energia autônomos, e envolver a comunidade no planejamento e na educação sobre práticas sustentáveis. Essas medidas podem ajudam a reduzir os impactos ambientais, sociais e econômicos e melhorar a capacidade de adaptação das comunidades locais. No entanto, nenhuma edificação será eficaz se o conjunto planejado não estiver dentro de um regime urbanístico integrado e capaz de mitigar os impactos causados por estas construções.

É importante entender o que realmente caracteriza um green building e suas premissas estratégicas. As soluções tecnológicas aplicadas devem não apenas mitigar os impactos causados pela construção, mas também garantir um custo operacional viável durante a ocupação e gestão energética do empreendimento. Infelizmente, algumas construtoras ou incorporadoras adotam pequenas medidas na construção apenas para fins de marketing. Para que um edifício seja verdadeiramente um prédio verde, é necessário considerar todo o ecossistema gerado, visando ganhos sustentáveis reais para a obra.

Planejamento Urbano em Áreas Ribeirinhas:

NE: Em relação ao planejamento urbano, quais são as principais diretrizes que o senhor acredita serem essenciais para evitar a construção em áreas ribeirinhas vulneráveis? Como podemos conciliar a necessidade de habitação com a preservação ambiental e a segurança dos moradores?

Ribas: Neste caso, para evitar construções em áreas ribeirinhas, são necessárias algumas diretrizes essenciais para o planejamento urbano. Posso dizer que a base ambiental deve sempre ser a principal questão a ser trabalhada. Para isso precisamos mapear as áreas de riscos, identificar zoneamentos adequados para cada uso e atividade pretendida, identificar áreas propícias para infraestrutura verde, como bacias de contenção ou retenção, revisão de regulamentações de construção, programas de reassentamento sustentável, entre outras ferramentas de políticas públicas.

Mapeamentos detalhados identificam áreas de risco de enchentes e deslizamentos, enquanto o zoneamento proíbe ou limita construções, a depender do uso ou atividade, nessas áreas, destinando-as a espaços verdes e de recreação. Infraestruturas verdes, como parques, ajudam a absorver impactos das enchentes e fornecem espaços recreativos. Regulamentações de construção precisam ser atualizadas e rigorosamente aplicadas para exigir medidas de mitigação de riscos em novas construções.

No entanto, para conciliar a necessidade de habitação com a preservação ambiental e a segurança dos moradores, é crucial adotar práticas como planejamento participativo, possibilitar diálogo entre a comunidade e entidades representativas, educação e conscientização, e parcerias público-privadas. O planejamento participativo deve envolver a comunidade no processo de planejamento, promovendo soluções inclusivas e sustentáveis.

Ocupação Demográfica em Canela e Gramado:

NE: Com a possibilidade de relocação das populações mais afetadas pelas enchentes, o senhor acredita que a Serra Gaúcha, especialmente cidades como Canela e Gramado, pode se tornar um destino preferido para essas pessoas? Quais seriam os impactos demográficos e urbanísticos dessa migração para a região?

Ribas: Sim, acredito nessa possibilidade. A Serra Gaúcha, especialmente Canela e Gramado, de uma forma ou de outra, já possui uma infraestrutura bem desenvolvida e ofertas de emprego em abundância, e de certa forma, esse aumento populacional já vem acontecendo. E agora, após esta crise no estado, poderá haver um interesse ainda maior em se estabelecer na região. Há muitos indicadores que apontam que grande parte da mão de obra de Gramado e Canela é oriunda de cidades vizinhas como Três Coroas, Igrejinha, Taquara, entre outros municípios. Perceba, com isso, o que geramos de mobilidade e custo de energia com essa demande de transporte intermunicipal. Portanto, planejar a região e suas interdependências é essencial para um desenvolvimento na escala regional que possa absorver essa movimentação de pessoas em busca de novas oportunidades de trabalho. Isso inclui não apenas ofertas de emprego, mas também a procura por qualidade de vida, ensino, capacitação e saúde.

Conforme o último censo demográfico, Canela e Gramado foram as cidades que mais cresceram populacionalmente no estado, com um aumento próximo a 10%. Fazer uma projeção precisa sobre o futuro é difícil, mas é claro que nossas cidades precisam se organizar rapidamente e eficaz junto aos órgãos regionais. O Conselho Regional de Desenvolvimento (COREDE) da Região das Hortênsias deveria assumir um papel central nesse processo, estabelecendo uma agenda de desenvolvimento bem articulada com as prefeituras locais.

Essa agenda ou planejamento precisa incluir um diálogo constante entre os poderes executivos e legislativos das diferentes cidades da região e a colaboração é essencial para a criação de um plano que seja estratégico e abrangente. É crucial que consideremos as diversas necessidades das comunidades, como infraestrutura, habitação, saúde, educação, mas também respeitarmos a matriz ambiental para este planejamento. Além da criação de políticas públicas que promovam a qualidade de vida, a capacitação profissional e a acessibilidade, fundamentais para absorver a possibilidade desse fluxo migratório em busca de novas oportunidades na região.

Vale salientar que, devido aos recentes eventos, mais de mil pessoas estão desabrigadas em nossa região. Há muito trabalho a ser feito. Precisamos organizar a situação atual e preparar nossas cidades para os possíveis novos moradores que poderão escolher a nossa região para viver.

Em resumo, o crescimento populacional significativo em Canela e Gramado indica a necessidade urgente de um planejamento regional coordenado e estratégico. A articulação entre o COREDE, as prefeituras e os poderes legislativo e executivo é vital para garantir que o desenvolvimento seja sustentável e beneficie todas as comunidades da região.

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