Estou sozinho?

Facebook
WhatsApp

Um dia destes, bem cedo, fui revisitar o Cânion Monte Negro, em São José dos Ausentes, um lugar onde já estive dezenas de vezes. Era uma segunda-feira. Não havia movimento de turistas pela região e nenhum carro no estacionamento do local. Pensei “Estou sozinho, isto vai ser bom.” Gosto de lugares tranquilos, com poucas pessoas quando vou nestes destinos de natureza, e ali, naquela manhã, o cenário estava perfeito.

Fui andando pela trilha de acesso quando me deparei com um graxaim arisco, que logo desapareceu mata adentro. Na lama do chão, vi suas pegadas bem marcadas, indicando a atividade deste pequeno canídeo nativo. Um canto conhecido de primavera chamou-me a atenção e vi, na ramagem baixa de uma guabirobeira, um sabiá-ferreiro a plenos pulmões, chamando pelas fêmeas. É uma ave migratória que adotou o Sul para seu período de acasalamento e cria dos filhotes.

Já no campo, próximo ao sopé do icônico Monte Negro visualizei, ao longe, rebanhos de gado pastando a verde e tenra grama de primavera, típica de pós queimada. Época de terneiros chegando ao mundo num lugar de uma beleza extraordinária, aliado ao rigor do clima, igualmente fora da curva. A tudo se habituam. Cavalos, não os vi, tampouco ovelhas e os elegantes e ariscos veados-campeiro.

Chegando ao local, deparei-me com um bando de urubus-de-cabeça-preta fazendo manobras elaboradas no ar, auxiliados pelas termas vindas do litoral. Em círculos, vão ganhando altura sem o bater de asas, aproveitando o “empurrão” do ar quente, mais leve do que o frio e, por isso, sobem em colunas invisíveis, mas perceptíveis a eles. Bandos de andorinhas dão um espetáculo à parte, fazendo uma louca revoada pelo vazio do cânion e emitindo, em conjunto, seus gritos estridentes, parecendo estalos de vidro quebrando.

A vegetação das bordas é rala, baixa e retorcida devido ao solo raso e ao vento. Ali, em algumas manchas de taquara, vi dois gibões-de-couro, outra ave migratória, capturando insetos em pleno voo, em acrobacias magníficas, dignas de grandes mestres. Outro caçador aéreo, que andava por ali, era a maria-preta-de-topete, pequena ave negra presente nos arbustos e mourões de cerca à espreita de insetos voadores. Como o gibão-de-couro, disputam o mesmo tipo de alimento, no mesmo local. Há espaço e comida para todos.

Depois de andar e ser castigado pelo vento forte, resolvi sentar num degrau do terreno e ali fiquei abrigado das rajadas, apenas ouvindo e vendo o mundo natural que se abria à frente. Passado um tempo, percebi, então, que não estava só, como queria no início da trilha, mas muito bem acompanhado. A natureza encarregou-se de distribuir bichos, plantas, vento, luz e paisagem de uma forma harmônica, fazendo-me sentir acolhido e, o importante, pertencente ao lugar. Foi uma manhã de muita paz e compartilhamento de espaço e energia com quem é dali. Assim, dei-me conta da impossibilidade de estar sozinho, em qualquer que seja o lugar. A natureza é plural.

Edições impressas

Segue a gente:

Mais Lidas

  • All Post
  • Agenda Cultural
  • Além do Papel
  • Colunistas
  • Entrevistas
  • Geral
  • Impressos
  • Matéria de Capa
  • Publieditorial
    •   Back
    • No Ponto
    • Gastronomia & Turismo
    • Salada Cultural
    • Folcloreando
    • Política
    • Social
    • Economia
    • Andando por aí
    • Saúde
    • Conexão Punta - Serra Gaúcha
    • DIA A DIA DA CAMPANHA
    •   Back
    • DIA A DIA DA CAMPANHA

SALADA CULTURAL

  • All Post
    •   Back
    • No Ponto
    • Gastronomia & Turismo
    • Salada Cultural
    • Folcloreando
    • Política
    • Social
    • Economia
    • Andando por aí
    • Saúde
    • Conexão Punta - Serra Gaúcha
    • DIA A DIA DA CAMPANHA

Categorias

Tags

  • Agenda Cultural (2)
  • Além do Papel (1)
  • Colunistas (0)
  • Andando por aí (47)
  • Conexão Punta - Serra Gaúcha (9)
  • Economia (25)
  • Folcloreando (52)
  • Gastronomia & Turismo (49)
  • No Ponto (53)
  • Política (31)
  • DIA A DIA DA CAMPANHA (1)
  • Salada Cultural (43)
  • Saúde (41)
  • Social (102)
  • Entrevistas (4)
  • Geral (217)
  • Impressos (1)
  • Matéria de Capa (51)
  • Publieditorial (3)

Autores

André Aguirre

Jornalista

Claiton Saul

Publicitário

Vitor H. Travi

Biólogo

Liliana Reid

Jornalista

Samanta Vasques

Relações-Públicas

Sabrina Santos

Jornalista

Lisiane Berti

Atriz e produtora cultural

Felipe Oiveira

Dentista

Estevan Blankenheim

Oficial de Justiça

Marco Aurélio Alves

Psicólogo

Pedro Oliveira

Pesquisador Folclorista

Carla bohrer

Empresária

Edit Template

Av. Júlio de Castilhos, 990 | Canela - RS

Nunca perca nenhuma notícia importante. Entre no nosso grupo do WhatsApp

...

© 2024 Desenvolvido por EssencialMedia

plugins premium WordPress