EU GOSTO DO FRIO

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Sempre que o inverno se manifesta com força no nosso paralelo 29 do sul do Brasil, traz junto lembranças da minha infância, quando gostava de caminhar na geada com aqueles duros e quentes tamancos de madeira e ouvir os estalidos provocados pelo amassamento dos cristais de gelo. Era um som abafado, de coisas quebrando e esmagando, lembrando o raspar de uma colher de pau numa superfície dura. Roc, roc, roc e lá ia eu pelo gramado de nossa casa deixando as pegadas bem marcadas no gelo superficial. Era divertido e o frio eu nem sentia, protegido pelo estímulo de andar ali com uma adrenalina capaz de proteger o corpo todo. Uma pequena poça de água exibia uma fina lâmina de gelo por cima, pedindo para ser removida e jogada longe para se quebrar como vidro. Passado o tempo da euforia inicial, percebia os dedos gelados, duros e com movimentos limitados, forçando a ficar um tempo com as mãos nos bolsos pra seguir a aventura. Logo o nariz acusava o mesmo problema dos dedos, assumindo aquele característico tom vermelho e pingando gotas de uma coriza alérgica. A coisa começava ficar complicada quando ouvia, ao longe, a inconfundível voz da minha mãe Lourde, chamando para entrar e sair do frio.

Hoje, quando na mesma Canela o orvalho congelado vem com força e branqueia telhados e gramados, reservo um tempo para apreciar, fotografar e ouvir, na voz da memória, a minha mãe chamando para o conforto do calor da casa. Gosto de sentir o ar polar que entra pelas narinas pedindo para se abrigar nos pulmões quentes, porque também ele está com frio. Ao sair, já aquecido, agradece deixando um rastro de alegria traduzido por pequenas nuvens de vapor expelida pela boca e narinas.

Quando estou no campo e me deparo com uma manhã branca, não deixo de ser novamente aquela criança. Calço botas, ao invés de tamancos, e saio feliz ouvindo aquele som único de gelo quebrando aos meus pés rememorando, a cada passo, o sabor gelado da minha infância. Também encontro poças com lâminas de gelo, mas, ao invés de pegar e jogar longe, piso em cima para ouvir o estralo. É divertido ser criança aos 73 anos, e a geada é a responsável por esta viagem ao passado. Gosto do frio não pelo desconforto causado, mas pela permissão de ser criança novamente.

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