Sou pequena, amarga e amarela, uma erva nativa dos campos do sul onde me distribuo entre as gramíneas e trevos, disputando sempre aquele precioso sol que permite a vida. No final do inverno, quando o fogo galopa pelos pastos secos, entrego meus ramos a ele, mas mantenho as raízes bem vivas e prontas para o ressurgimento na primavera. Também deixo sementes, lançadas pelos generosos ventos do outono. Elas ficam, ali, deitadas no solo, escondidas das labaredas, prontas para germinarem ao final das chuvas de agosto.
Tenho um caule frágil, concebido apenas para suportar o peso das minhas finas folhas verde-claras, parecendo fitas delicadas, e minhas flores em forma de pequenos buquês dourados. Na primavera e verão, sou pouco notada por estar mesclada com a vegetação do gramado, mas no início do outono torno-me uma rainha. Meus cachos atraem, desde sempre, a atenção dos habitantes destes pagos na busca de substâncias mágicas que aliviam seus males. Quando amadureço, perto da Páscoa, vejo multidões colhendo meus ramos e levando para casa, garantindo assim, um chá milagroso para os males do estômago. Insetos variados também me procuram nesta época, ávidos pelo meu néctar. Tão popular me tornei na medicina campeira, que fui declarada Planta Medicinal Símbolo do Rio Grande do Sul, em dezembro de 2002.
Há um sincronismo enigmático entre o meu amadurecimento e o evento da Páscoa, como se um se ajustasse ao outro. Sempre fui tratada com um jujo, nome nativo para a erva medicinal, de grande poder curativo. Isso tem contribuído para eu me espalhar por lugares diversos, além daquele onde nasci, através das minhas minúsculas sementes levadas, nesta época, por estes homens chegados a pé, montados a cavalos, em motos ou carros. Carregam-me em feixes para suas casas, ou para feiras e oferecem àqueles que não puderam me colher, ou, ainda me fazem de guirlandas e enfeitam portas e mesas. Também me usam como recheio de travesseiros para sentir meu perfume calmante, propiciando conforto e bem-estar. Sou assim, uma pequena moradora do campo, levada por homens e ventos para lugares diferentes, sempre pronta para me transformar numa preciosa bebida amarga, amarela e curativa dos males do corpo. Já os da alma, destes se ocupa meu perfume, que evola mil soluções.