GAÚCHO, TE PILCHA QUE TEM RODEIO!

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Começou na manhã de quinta-feira (9), a 40ª edição do Rodeio Crioulo Nacional de Canela. O evento transforma a cidade em um vibrante polo de cultura e tradição gaúcha até o dia 12 de janeiro. Realizado no Parque de Rodeios Saiqui, a expectativa é de que a festividade atraia mais de 30 mil visitantes, entre residentes, turistas e competidores de diversas partes do Brasil em uma celebração única. Sob a organização do Centro de Tradições Gaúchas (CTG) Querência, com o apoio da Prefeitura e da Câmara de Vereadores, o rodeio transcende a competição; é uma manifestação autêntica da identidade gaúcha, profundamente enraizada nos costumes ancestrais, que oferece uma ampla gama de atividades, desde provas campeiras até apresentações artísticas, reafirmando o compromisso de Canela com a preservação de suas tradições culturais. As provas iniciaram na quinta-feira nas modalidades Vaqueano, Veterano e Laço Patrão e Capataz.

Foto: Diego Santos

A organização estima mais de três mil inscrições nas provas campeiras, fator que demonstra a grandiosidade do evento. Nas provas artísticas, as inscrições já encerraram e contarão com equipes representantes de Caxias do Sul, Erechim, Esteio, São Marcos, Ipê, Cidreira, Flores da Cunha e Viamão. A área de camping do Parque do Saiqui já está quase lotada, recebendo participantes de diversas regiões do Rio Grande do Sul, evidenciando o espírito de competição. Laçadores de outros estados também já confirmaram presença.

Além das disputas, o rodeio conta com programação social que será embalada por grandes nomes da música gaúcha como o JJVS na noite de quinta, e Estação Fandangueira e Grupo Candiero, na sexta-feira (10). Para encerrar a festa em grande estilo, Os Mateadores comandarão o fandango no sábado (11). Mais informações podem ser obtidas pelo telefone/WhatsApp: (54) 3282-2666.


Foto: Diego Santos

HISTÓRIA DOS RODEIOS NO BRASIL E O PAPEL DO RODEIO CRIOULO

Os rodeios no Brasil têm suas origens no século XX, inspirados pelos rodeios norte-americanos. Barretos, em São Paulo, tornou-se o local do primeiro evento oficial na década de 1950, hoje conhecido por sua grandiosidade e influência da cultura de cowboys. Ele inclui montaria em touros e cavalos, além de provas como laço e corrida de tambores, tudo em um cenário festivo enriquecido por grandes shows sertanejos.

O rodeio crioulo, por outro lado, começou em 1958 em Vacaria, Rio Grande do Sul, destacando-se por preservar práticas autênticas do campo. Ele surgiu a partir de torneios de tiro de laço competitivos, utilizando cavalos da raça crioula, com o objetivo de resgatar manifestações das tradições rurais. Este tipo de rodeio é uma expressão da tradição dos pampas, com foco em provas como gineteada e, no ambiente cultural, enriquecido por música tradicional e danças folclóricas, promovendo a convivência familiar e comunitária.

Em síntese, enquanto Barretos se destaca pelo espetáculo grandioso e reconhecido internacionalmente, o rodeio crioulo foca na autenticidade e nas tradições gaúchas. Juntos, eles ilustram a diversidade cultural do Brasil, cada um com sua identidade e contribuição única.


IMPORTÂNCIA DO RODEIO CRIOULO E RECONHECIMENTO LEGAL

Recentemente reconhecido como patrimônio cultural brasileiro, o rodeio crioulo é uma expressão cultural profundamente enraizada nas tradições gaúchas. Este reconhecimento reforça sua importância, assegurando práticas seguras e responsáveis. A legislação que classifica o rodeio como atividade cultural fortalece seu papel na preservação das tradições, garantindo que os eventos sejam realizados com a devida proteção para animais e participantes.
Este ano, o rodeio em Canela apresenta mais de 20 provas campeiras e 12 artísticas, abrangendo competições como tiro de laço, gineteada e duelo de prendas. Estas atividades refletem a riqueza e diversidade das tradições gaúchas, proporcionando um espetáculo de talento para cerca de 3 mil competidores. Além das competições, o evento oferece uma experiência completa ao público, com uma praça de alimentação destacada por uma variedade de comidas típicas e uma “rua do comércio” que reúne empresas e artesãos locais. Os fandangos, com shows de JJVS, Candieiro, Estação Fandangueira e Os Mateadores, prometem noites animadas, celebrando a música e dança tradicionais gaúchas.

IMPACTO E EXPECTATIVAS

O Parque Saiqui, com infraestrutura aprimorada e áreas de camping bem equipadas, está preparado para receber o público com conforto. O evento é um grande motor para a economia local, impulsionando o turismo, comércio e gastronomia. O Rodeio Crioulo Nacional de Canela não é apenas um espetáculo, mas um marco cultural que fortalece os laços comunitários, oferecendo uma plataforma para que as tradições gaúchas continuem a ser vividas e compartilhadas.


UMA JORNADA DE TRADICIONALISMO

Para entender melhor a evolução e o impacto do Rodeio de Canela ao longo das décadas, entrevistamos José Araújo, 65 anos, conselheiro benemérito do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG) e peão do Centro de Tradições Gaúchas (CTG) Querência. José Araújo nos conta: “Eu sou filho de São Francisco, mas moro em Canela desde 1975. Quando cheguei, comecei a participar da Invernada Artística do CTG Querência, que era um dos poucos centros de tradições na região naquela época”, lembra Araújo. “Em outubro de 1977, começamos a construir o Parque de Rodeios Saiqui, um trabalho árduo de movimentação de terra. O primeiro Rodeio Nacional ocorreu de 26 a 28 de janeiro de 1979, dando início a uma série de eventos anuais que se tornaram um marco na preservação da nossa cultura regional”, revela ele. Conforme Araújo, organizar o primeiro rodeio não foi fácil, mas a comunidade se uniu sob a liderança de figuras importantes na época, como o patrão Adilio Boeira Lucena, o capataz da Campeira Sidney Santos e Pedro Bohrer, patrão do Rincão das Hortênsias. No início, tudo era feito voluntariamente, com pessoas doando tempo e recursos. “Isso criou um forte senso de comunidade e pertencimento. Atualmente, algumas funções se profissionalizaram para garantir a qualidade e a segurança do evento, mas o espírito de cooperação e voluntariado continua sendo um pilar fundamental do rodeio”, explica Araújo. “Quando começamos, havia menos de 20 laçadores em Canela. Hoje, esse número supera os 400, e isso se deve ao estímulo contínuo do CTG Querência e ao crescente interesse da população local. A cultura do laço e das gineteadas realmente floresceu aqui, e temos visto os canelenses se destacarem nas competições não só locais, mas também em rodeios em outras regiões. O evento se adaptou a novas regras de segurança e incorporou prêmios monetários, o que atrai competidores de alto nível e aumenta o prestígio do rodeio”, menciona José Araújo.

IMPACTO CULTURAL E ECONÔMICO

Foto: Martim Gil

O Rodeio Crioulo teve uma participação muito grande na evolução da tradição em Canela. “O evento atrai milhares de visitantes, o que gera um impacto econômico significativo na cidade. As pessoas vêm, consomem, hospedam-se em nossos hotéis e movimentam todo o comércio local. Além disso, o rodeio serve como vitrine para a cultura gaúcha, promovendo danças, músicas e tradições que são passadas de geração em geração. É uma forma de manter viva a chama da nossa identidade cultural”, avalia Araújo. Apesar dos desafios, como a constante presença de chuva, o rodeio é repleto de momentos marcantes. Em 46 anos, ocorreram poucos rodeios sem chuva. No entanto, isso nunca diminuiu o entusiasmo dos participantes e espectadores. O público sempre foi constante, e o número de participantes cresceu significativamente ao longo dos anos. “Para acomodar todos, tivemos que implementar iluminação para permitir que as competições avancem até a noite”, comenta Araújo com um sorriso. “Essa adaptação tem se tornado uma tradição por si só, proporcionando uma experiência única para os competidores e espectadores, que podem continuar desfrutando do evento mesmo após o pôr do sol”, acrescenta o tradicionalista.

JOSÉ ARAÚJO é conselheiro benemérito do MTG
Foto: Arquivo pessoal

PRESERVAÇÃO DAS TRADIÇÕES

O Rodeio de Canela não é apenas um evento esportivo; é uma verdadeira celebração das tradições gaúchas. Envolve competições artísticas, campeiras e de rédeas. “Desde nosso primeiro rodeio em 79, nos esforçamos para manter vivas essas tradições, adaptando-as aos novos tempos sem perder sua essência. O envolvimento crescente dos jovens é especialmente encorajador, pois eles trazem novas energias e garantem que nossa cultura continuará a prosperar no futuro”, afirma Araújo com orgulho.


O FUTURO DO RODEIO CRIOULO DE CANELA

Foto: Diego Santos

À medida que o 40º Rodeio Crioulo Nacional de Canela se aproxima, a expectativa cresce não apenas em torno das competições e atrações, mas também sobre o impacto duradouro que o evento continua a ter na comunidade local e na preservação das tradições gaúchas. A transformação de Canela em um centro cultural durante o rodeio é um testemunho da força e da paixão que sustentam essa celebração ao longo das décadas. José Araújo, com sua vasta experiência e dedicação ao movimento tradicionalista, resume o espírito do rodeio: “Enquanto houver paixão e união, o Rodeio de Canela continuará a ser um pilar da nossa cultura, reunindo gerações em torno de uma herança cultural rica e vibrante.”

Como refletido nas palavras de Araújo, o rodeio é mais do que uma série de competições; é uma oportunidade para fortalecer laços comunitários, impulsionar a economia local e, acima de tudo, manter vivas as tradições que definem a identidade gaúcha. O futuro do Rodeio Crioulo de Canela parece promissor, prometendo continuar a inspirar e envolver todos aqueles que valorizam e celebram a cultura gaúcha.

Com cada edição do rodeio, Canela reafirma seu compromisso com a tradição, o que garante que o evento não apenas sobreviva, mas floresça em um mundo em constante mudança. É uma celebração onde o passado e o presente se encontram, assegurando que o legado cultural do Rio Grande do Sul continue a ser honrado e vivido por gerações futuras.

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