Investir para se proteger

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A ironia nunca passa despercebida. Enquanto esses dias o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sugeriu que os brasileiros deixassem de comprar produtos caros para “forçar” a queda de preços, ele próprio vestia uma gravata Louis Vuitton que, no Brasil, custa quase R$ 1.800 — mais de uma vez o salário mínimo nacional. A fala, que rapidamente virou piada nas redes sociais, reflete um grave problema: a dificuldade dos governantes em compreender as reais origens da inflação. Controlá-la exige medidas impopulares, como responsabilidade fiscal e juros reais positivos, mas o caminho preferido costuma ser a retórica populista, já que cortar despesas e aumentar juros não reelege ninguém. Nos Estados Unidos, não está muito diferente. O presidente Donald Trump segue a mesma cartilha ao impor novas tarifas sobre o aço e o alumínio, tornando o país ainda mais protecionista e pressionando os preços para os americanos e o resto do mundo. No fim das contas, são os consumidores que pagam a conta das decisões políticas que ignoram as leis básicas da economia.
A verdade é que inflação não se resolve no grito, nem com pedidos para que o povo consuma menos. Se fosse assim tão simples, o Brasil não teria enfrentado décadas de hiperinflação antes do Plano Real. Diferentemente do que muitos podem achar, inflação não nasce da ganância dos empresários ou do desejo dos consumidores, mas da irresponsabilidade na condução da política econômica. Margaret Thatcher sabia disso quando, ao assumir o Reino Unido em 1979, enfrentou uma inflação galopante e a enfrentou com uma combinação de cortes de gastos públicos, privatizações e juros elevados. Suas medidas foram duramente criticadas na época – afinal o desemprego subiu muito e a pressão popular foi enorme – mas o tempo mostrou que foi a escolha certa. O país conseguiu sair da estagnação e voltou a crescer, provando que combater a inflação exige coragem para contrariar o senso comum.
Enquanto Thatcher enfrentava sindicatos e governos inchados para conter a escalada inflacionária, líderes populistas preferem culpar terceiros. No Brasil, a culpa é dos empresários que não baixam os preços; nos Estados Unidos, dos estrangeiros que “roubam empregos”, justificando tarifas protecionistas que, na prática, tornam tudo mais caro. Não fossem os imigrantes, a inflação por lá ainda estaria galopante. No fim, o problema segue o mesmo: em vez de lidar com as causas da inflação – gasto público descontrolado, déficits persistentes e políticas de incentivo ao consumo sem lastro – governos escolhem soluções fáceis e frases de efeito para ganharem a simpatia dos seus eleitores.
Essa resistência em admitir os reais fatores que geram inflação não é nova no Brasil. Nos anos em que Guido Mantega esteve à frente da economia, a estratégia era negar a existência do problema ou atribuí-lo a fatores secundários. Em 2011, quando a inflação já começava a subir, o então ministro da Fazenda afirmou que “a inflação estava sob controle”. Pouco tempo depois, em vez de combater as causas estruturais da alta de preços, o governo tentou mascará-la com congelamento de tarifas públicas e desonerações pontuais. Quem lê um pouquinho sobre congelamento de preços sabe que ele é o pior remédio. Houve, portanto, um descontrole inflacionário que explodiu em 2015, agravando ainda mais a recessão que ali se instalava.
Agora, a história se repete. Ao invés de lidar com o problema de frente e tentar atacar os gastos fiscais e a dívida pública com mais responsabilidade, nosso presidente transfere a responsabilidade para o consumidor, como se fosse ele quem definisse os preços. Nos EUA, Trump adota uma estratégia semelhante ao aumentar tarifas e mencionar corte de impostos, como se tributar o comércio exterior fosse fortalecer a economia americana, e como se os americanos já não estivessem em uma situação complicadíssima de endividamento público. Em ambos os casos, o protecionismo e o populismo acabam pesando no bolso da população – a mesma que, ironicamente, os líderes dizem querer proteger.
Infelizmente não podemos controlar o que os líderes da atualidade dizem ou fazem em elação a esse mal do século (ou séculos?), chamado inflação. Mas podemos, sim, como investidores inteligentes, buscar formas de nos proteger da alta inflacionária. Deixar o dinheiro parado ou no CDI significa arriscar perder seu poder de compra ao longo do tempo. O CDI pode estar alto hoje, mas não deverá se manter assim por muito tempo. Títulos mais longos atrelados à inflação ajudam a manter o patrimônio ajustado à realidade econômica, enquanto investimento em ouro físico são um hedge clássico contra desvalorização da moeda. O mercado imobiliário também é um aliado, já que aluguéis tendem a acompanhar a inflação, e investir em empresas com capacidade de repassar preços ao consumidor é uma forma de blindar a carteira no longo prazo. Inflação sempre existiu e sempre existirá. A diferença está entre quem apenas reclama e quem se prepara para ela.

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