O ano de 2024 marcou o Rio Grande do Sul com uma ferida aberta, difícil de esquecer. A lama tomou conta das ruas, invadiu lares, levou histórias, sonhos e até vidas. Cada casa atingida pelas enchentes trazia consigo não só o peso das águas, mas o silêncio pesado da perda. Nos olhos dos gaúchos, acostumados com a luta e a lida, havia uma mistura de cansaço e determinação, como quem resiste ao frio minuano e ao calor escaldante, mas agora precisava enfrentar as correntes de um rio transbordado.
Em meio ao caos, brilhou a fé. Não como uma palavra vazia, mas como um abraço solidário, um prato de comida quente entregue em silêncio, uma mão estendida no barro. A fé foi o farol nas noites escuras, o sustento para seguir adiante quando tudo parecia perdido.
Com a chegada de dezembro, o Estado vê novamente as luzes de Natal enfeitarem as ruas, principalmente aqui na Serra Gaúcha. Pequenas ou grandes árvores surgem, nas casas reconstruídas com esforço, nas empresas que equilibram-se entre o “tentar ou desistir”, lembrando que o espírito do Natal não se apaga, mesmo quando a vida desmorona. O brilho das luzes encontra um eco nas estradas que ainda seguem em reconstrução nos lembrando que as cicatrizes do ano ainda estão aqui, mas também de que é possível renascer.
As famílias se reunirão como podem. Os presentes talvez sejam simples, para alguns apenas palavras, gestos ou a própria presença. No entanto, o verdadeiro presente é a resiliência, o amor que une cada um em torno do pinheiro enfeitado. Mais do que nunca, o Natal é uma promessa de renovação, um sussurro de esperança que diz: “A vida segue, e o melhor ainda está por vir”. (Tem uma música do Diego Torres que fala exatamente isso e adoro usar nos exercícios de teatro.)
Entre o brilho e a lama, entre as luzes que enfeitam as ruas e as lembranças daquele maio que ainda nos assombra, nós, gaúchos encontramos força. Não para esquecer o ano difícil, mas para transformá-lo em um trampolim para dias melhores. Pois, como a luz das estrelas atravessam o breu da noite, assim também a esperança atravessa o lodo da dor. E o Natal, falo do verdadeiro espírito de Natal, iluminará os passos, assim como a estrela de Belém conduziu os Reis Magos, para um 2025 de recomeços. Eu acredito, e vocês?