O verão deste 2024 está terminando e com ele, os ciclos de calor e frio, chuva e estiagem, cerração e chuvisqueiro. Uma coisa, porém, chama a atenção quando ando pelas ruas de Canela, com aquele passo de quem não tem pressa e a atenção concentrada nas cores deste final de estação. Escondida entre as araucárias, ou exuberante nos pátios, praças ou terrenos baldios, a chuva-de-ouro (Senna multijuga) exibe-se como ninguém nesta época. Suas pequenas pétalas amarelas explodem juntas pintando a árvore de um dourado chamativo, atraindo olhares e insetos para suas flores. O chão, ao pé desta planta, fica gradativamente colorido como ela, quando se acumulam milhares de pequenas pepitas que, agora, vão atrair os recicladores, como os fungos e outros insetos, e fechar o ciclo natural.
Lírio-japonês
O misterioso e encantador manacá-da-serra (Tibouchina mutabilis) está em plena exibição de sua florada de três cores, motivo de tanta indagação e curiosidade. Quando a flor se abre, a cor das pétalas é branca, parecendo uma bandeira sinalizando a paz. Poucos dias, e a cor vai mudando para o lilás, que sinaliza aos insetos, que o néctar está no ponto de ser consumido. Desta maneira, a polinização ocorre apenas nas flores prontas, otimizando o processo. No chão, vejo apenas pétalas lilases, mostrando que o ciclo da flor se encerra com esta cor.
Manacá-da-serra
De touceiras de folhas longas, estreitas e curvas, emergem as hastes floridas do capim-dos-pampas, como alegorias hasteadas ao vento para saudar o outono que se aproxima. Comum em qualquer beira de estrada, esta gramínea nativa compõe muito bem em jardins e praças, tornando-se uma boa opção para os jardineiros que apreciam cultivar plantas do pago, mesmo que convivam com outras espécies de lugares distantes.
Chuva-de-ouro
O lírio-trombeta, ou lírio-japonês, (Lilium longiflorum) está espalhado pela zona rural e nos parques urbanos, emergindo sempre nesta época para mostrar suas brancas flores tubulares. Nativo do oriente, estas plantas são cultivadas no mundo todo pela sua beleza, leveza e encantamento. Dissemina-se naturalmente pelo vento e hoje está espalhada pelo sul do Brasil, embelezando e perfumando o final do verão.
Gengibre-vermelho
Nas bordas de algumas áreas com mato, ou em raros jardins, encontro o espetacular gengibre-vermelho (Hedychium coccineum), com suas espigas de flores muito atraentes e com perfume exótico, trazido lá de sua região de origem, a distante Índia. É uma planta que perde suas folhagens no inverno, mas que renasce de suas raízes na primavera seguinte. O gengibre-branco, outra espécie comum por aqui, foi trazido pelos europeus para a produção de um tipo de cerveja, a partir da fermentação de suas raízes aromáticas. Também é muito empregado como tempero na culinária local.
Capim-dos-pampas
Além destes sinais, o amadurecimento do caqui, do araçá e da goiaba-serrana, a morte das flores da hortênsia e do agapanto, o progressivo encurtamento do dia e o silêncio dos sabiás e tico-ticos são outros eventos que chamo de sinalizadoras de estação. Eles, em conjunto, marcam o atual período e funcionam como um calendário natural, sinalizando com cores, odores e sabores, cada quatro meses do ano.