Uma menina que cria na escola, aos dez anos, uma peça teatral chamada Kafej e os seres mágicos está mostrando que tem imaginação. E se uma boa parte dessa magia do espetáculo ela já viveu, pelas características da cultura do seu povo, essa pessoinha pode se orgulhar de ter um vantajoso conhecimento de causa. A vantagem é para Fuá, de registro na lei dos brancos Marciely Vitória Farias Salvador. Fuá é uma menina kaingang, da comunidade Kógunh Mág, situada em Canela na área da Flona (antiga floresta do Instituto do Pinho). Fuá, hoje com doze, está adorando ser atriz. Ela empresta seu nome indígena e é protagonista do curta-metragem Fuá – o Sonho. O curta – primeiro lugar no edital da Lei Paulo Gustavo em Canela – que destaca a relação entre as mulheres kaingang e as plantas, é a segunda oportunidade para ela ir para a frente das câmeras, pois já foi coadjuvante na produção A araucária e a gralha azul: uma história dos antigos Kaingang.
Orgulho para a família, o convite para a participação com destaque da menina, em Fuá – o Sonho, se deve ao combo de qualidades que ela entrega: tem desenvoltura, aprendeu bem com as oficinas de preparação de elenco ministradas por Lisi Berti, prepara-se com afinco antes de cada gravação (em Canela e Porto Alegra) e conhece bem o assunto plantas, pelos ensinamentos herdados já da avó.
Fuá é a menina da direita na foto do Inventário Audiovisual.
Abaixo, com os pais e o irmãozinho.
Na escola municipal Cônego João Marchesi, em que estuda, (com ela, mais seis kaingang), Fuá vai deixando de ser Marciely aos olhos dos colegas. Mérito dela, que já superou a timidez inicial para falar-lhes sobre o seu povo. Fotógrafa iniciante (tem uma câmera), Fuá brinca que “gostaria de produzir um filme de terror”, e a ambientação da Flona seria ótima. Guarda com ela um conselho do seu pai: “seja o que você quiser no futuro, mas nunca deixe de lembrar o que você carrega dento de si, que lhe deram seus antepassados”.
DICA
Ainda há ingressos para o showzaço Reunião 30 anos, do Papas da Língua, no dia 20 de abril em Caxias do Sul. Fomos assistir a celebração que foi a apresentação em Porto Alegre, num Auditório Araújo Vianna lotado de gente de todas as idades, rolou muita emoção. Chamar de memorável é pouco, de inesquecível, é fazer justiça. A formação original do Papas arrebenta, Serginho Moah cantando como nunca. Vá! Ingressos no site minhaentrada.com.br
DE KOMBI NO MUNDO – XVI
Ingrid, Cissa e os companheiros de viagem Ted e Brisa
Cissa Campos é uma mineira de nascimento, crescida em Taubaté (SP) e que iniciara um projeto pessoal de rodar por aí num Land Rover. Ingrid Folha, pelotense, achou que a hora de chutar o balde da rotina e partir pro mundo veio junto com a compra da Kombi (2013), em plena pandemia. As duas se conheceram e se curtem desde Florianópolis. Terminada a adaptação da (hoje) verde-branquinha, iniciaram um grande processo de desapego e afirmam que literalmente moram na Kombi – por conseguinte, nos campings, praias e paisagens da vida. De Canela, onde conversamos há duas semanas, elas estavam partindo para o Nordeste, costeando o litoral para retornar ao Sul cortando o Brasil pelo meio. Sem pressa, sem datas, aproveitando ainda mais tanta felicidade.