(E seus contos…)
Um dos maiores escritores que esta terra pariu: Simões Lopes Neto!
Em seus “Contos Gauchescos” ele narra uma série de fatos, todos nos seus mínimos detalhes, graças à sua vivência campeira.
Assim é no conto “Trezentas onças” (parte dele):
Blau Nunes, o campeiro de “alma forte e coração sereno” perdera trezentas onças que não eram suas e estava desesperado. E assim pensando, já engatilhava a pistola junto ao ouvido, pra fugir à sua vergonha, quando, ao olhar em torno, como quem se despede de tudo, eis que se dá o milagre:
“…………. No refilão daquele tormento, olhei para diante e vi… as Três Marias luzindo na água… o cusco encarapitado na pedra, ao meu lado, estava me lambendo a mão… e logo, logo, o zaino relinchou lá em cima, na barranca do riacho, ao mesmíssimo tempo que a cantoria de um grilo retinia ali perto, num oco de pau!… – Patrício, não me avexo duma heresia; mas era Deus que estava ali no luzimento daquelas estrelas, era Ele quem mandava aqueles bichos brutos arredarem de mim a má tenção…
O cachorrinho tão fiel lembrou-me a amizade da minha gente; o meu cavalo lembrou-me a liberdade, o trabalho, e aquele grilo cantador trouxe a esperança…
Eh-pucha! Patrício, eu sou mui rude… a gente vê caras, não vê corações…; pois o meu, dentro do peito, naquela hora, estava como um espinilho ao sol, num descampado, no pino do meio-dia; era luz de Deus por todos os lados!…
E já no meu sossego de homem, meti a pistola no cinto. Fechei um baio, bati o isqueiro e comecei a pitar”.
Simões Lopes Neto escreveu “Cancioneiro Guasca” (1910); “Contos Gauchescos” (1912); “Lendas do Sul” (1913); “Casos do Romualdo” (1914); “Terra Gaúcha” – Edição póstuma em 1955….
Entre as Lendas descritas por ele, são consideradas verdadeiras obras-primas “Boitatá”, “A Salamanca do Jarau” e “O Negrinho do Pastoreio”.
Nota: tenho em minha biblioteca um exemplar da primeira edição do “Contos Gauchescos” de 1912, impresso pela Gráfica Echenique / Pelotas/RS (dos fundos de sua casa).
João Simões Lopes Neto, segundo estudiosos e críticos em literatura, foi o maior autor regionalista do Rio Grande do Sul, enaltecendo em seus escritos, o gaúcho e suas tradições. Nasceu em Pelotas a 09 de março de 1865 e faleceu em 14 de junho de 1916 – aos 51 anos – também em Pelotas, no Rio Grande do Sul… a nossa terra!
Da sapiência dos almanaques: Quanto mais escura a noite, mais claro o canto do grilo!