Não é surpresa que a maioria dos investidores estejam concentrando cada vez mais seus recursos no CDI, seja por meio de produtos bancários, Tesouro Selic ou fundos que aplicam nesses ativos. O CDI, afinal, tem superado praticamente todas as demais classes de ativo brasileiras neste ano: bolsa, fundos imobiliários, multimercados, IMA-B… entre outros. Mesmo quando provoco os clientes agressivos e com horizontes de mais longo prazo a alocar uma pequena parte de suas carteiras na bolsa — especialmente com os preços tão descontados atualmente —, a resistência é evidente. Admito que eles têm motivos: nos últimos 10 anos, o IBR-X, índice mais amplo de ações brasileiras, rendeu 150%, ligeiramente acima dos 142% do CDI, mas com muito mais volatilidade.
Além da rentabilidade passada não incentivar aportes na renda variável brasileira, estamos numa fase em que se obtém rendimentos acima de 10% ao ano com pouco esforço. Esse cenário, aliado à nossa dificuldade crescente de pensar no longo prazo, contribui para o desinteresse. As mídias sociais e a instantaneidade moldaram uma mentalidade mais curto-prazista. Muitos investidores buscam superar o CDI em janelas mensais, como se o desempenho de longo prazo fosse irrelevante e como se o CDI fosse permanecer alto para sempre. Tenho clientes que sugerem mudanças de estratégia mensalmente, sempre focando na “classe de ativo da vez”. A verdade? Sempre haverá uma classe que supera o CDI em alguma janela específica. Este ano, por exemplo, o dólar já sobe mais de 18%, superando o CDI, mas isso não significa que dolarizar toda a carteira é a decisão certa neste momento.
O ponto central é: precisamos nos reeducar como investidores. O portfólio mais robusto não é aquele que vence o CDI em todas as janelas, mas o que apresenta rendimentos consistentes e razoáveis em qualquer cenário macro. Não podemos esquecer que o tão amado CDI pode virar o vilão do dia para a noite, como vimos durante a pandemia, quando caiu para 2% ao ano.
Outro aspecto a considerar: alocar no CDI via Tesouro Selic é, na prática, financiar o governo federal, que se endivida cada vez mais para entregar muito pouco à população brasileira. Qual foi a real geração de valor dos nossos governos nos últimos anos? Por outro lado, ao investir em ações ou fundos imobiliários, estamos ajudando a financiar projetos que impactam diretamente a economia real. As empresas conseguem viabilizar iniciativas inovadoras, criar empregos e desenvolver soluções que aumentam a produtividade. Essa é a verdadeira beleza da renda variável: contribuir para o crescimento econômico de forma tangível.
É verdade que a última década foi difícil para ações no Brasil, com índices como o Ibovespa e o IBR-X apresentando retornos modestos. Ainda assim, alguns gestores de ações se destacaram. Uma cesta de fundos de ações ativos disponíveis em plataformas de investimento, como Atmos, Dynamo, IP e Guepardo, entregaram um retorno de 180% a 438% nos últimos 10 anos, versus os 165% do CDI, 154% do Ibovespa e 140% do Dólar. Sim, mesmo durante a “década perdida” para ações brasileiras, quando investimos junto com gestores que fazem um trabalho acima da média, temos retornos acima da média de mercado. Esse desempenho mostra que, para quem busca valor no longo prazo, a renda variável segue sendo uma escolha com méritos.
O que tudo isso nos ensina? Portfólios devem ter ativos de naturezas diferentes. Concentrar-se apenas no CDI ou em qualquer classe específica pode limitar o crescimento do patrimônio. A volatilidade da bolsa, embora desconfortável, é parte do processo natural de geração de valor. Investir em ações vai além do retorno financeiro: é financiar o progresso econômico, incentivar inovações e contribuir para um futuro melhor.
Se a década passada foi desafiadora, a próxima pode trazer novas oportunidades. Como investidores, precisamos enxergar além do imediatismo e abraçar a beleza da renda variável — não apenas pelo retorno, mas também pelo impacto.