Warren Buffett já nos dizia que a maior qualidade do investidor acima da média é o seu temperamento, e não o seu QI. Não é coincidência que os livros preparatórios para a certificação mais ambicionada do mercado financeiro, do CFA (Chartered Financial Analyst), estão repletos de estudos de caso envolvendo Economia Comportamental. Entender como os vieses comportamentais influenciam nossas decisões, sejam elas de investimento ou relacionadas à nossa vida pessoal, inegavelmente nos tornam investidores e pessoas mais resilientes. Um viés bastante comum e pouco explorado é o da “disponibilidade” – ou “availability bias”, em inglês. Ele ocorre quando superestimamos a probabilidade de um evento ocorrer novamente, seja porque o mesmo aconteceu num passado recente, seja porque teve um impacto muito forte em nossas vidas, emocionalmente falando.
Nesta mesma linha, Howard Marks também traz boas reflexões num dos geniais Memos que ele escreveu no auge da crise do Coronavírus. Em “Knowledge of the Future”, o megainvestidor comenta que comumente “usamos extrapolação do passado como a melhor maneira de lidar com o futuro”. Nos investimentos, iniciantes frequentemente alocam na ação da empresa X depois de olharem para um gráfico que demonstra uma rentabilidade acumulada invejável. Ou seja, compram pensando que esse histórico vai se perpetuar daqui para a frente. O oposto também é verdadeiro: muitos “traders” acabam shorteando (apostando contra) ou deixando de entrar em algumas teses bem fundamentadas e com boa assimetria de risco pelo simples fato de que as ações de tais empresas encontram-se no chão. Como a rentabilidade passada recente não é nada animadora, acabam confiando que a tendência baixista seguirá… em ambos os casos, a probabilidade está a favor da frustração do investidor/trader conforme o tempo passa.
Na vida real não é diferente, os acontecimentos da vida quase sempre vêm em ondas. Lembrar que elas oscilam é preciso – especialmente neste momento. A onda gigante que quebra no Rio Grande do Sul neste momento é das mais impactantes, tristes e destruidoras. E quando estamos ocupados demais tentando salvar vidas, abrigando pessoas que perderam tudo, consolando os pequenos e médios empresários que levam o PIB do estado nas costas, tudo parece não ter fim. A sensação de impotência, de desesperança e de desespero toma conta da nossa mente e dos nossos corações. E assim, quase que automaticamente, o pouco de racionalidade que nos restava perde espaço para a total emoção. É normal. Nassim Taleb já nos ensinou que somos seres emocionais, por mais que queiramos acreditar que é a racionalidade que nos move.
Ontem tivemos a honra de conversar com Guilherme Benchimol, co-fundador e Presidente do Conselho da XP Inc. Para quem não sabe, embora Guilherme seja carioca, foi no Rio Grande do Sul, mais especificamente em Porto Alegre, que ele iniciou a trajetória da XP Investimentos, no início dos anos 2000. Ou seja, sendo carioca da gema mas gaúcho de coração, ele está claramente emotivo e compartilha conosco a nossa dor. Ao mesmo tempo, sendo um exemplo de empreendedor que já passou por diversos momentos de adversidade (quem ainda não leu o “Na Raça”, indico fortemente), Benchi nos lembrou da resiliência do povo gaúcho, da nossa marca empreendedora e ao mesmo tempo solidária, da nossa origem batalhadora e de nossa capacidade de superação. Dentre uma palavra de motivação e outra, ele nos trouxe uma das mais inesquecíveis frases de Ayrton Senna: “na adversidade, uns desistem, enquanto outros batem recordes”.
Gostaria que esse fosse o nosso lema daqui para frente, amigos do Sul. E podem acreditar: isso tudo também vai passar.
“Eu quero andar nas coxilhas sentindo as flexilhas das ervas do chão
Ter os pés roseteados de campo ficar mais trigueiro que o sol de verão
Fazer versos cantando as belezas desta natureza sem par
E mostrar para quem quiser ver um lugar pra viver sem chorar (…)”