O livro Seis mil anos de pão – a civilização humana através de seu principal alimento de Henrich E. Jacob, é instigante e me fez repensar atentamente os conceitos de Ecologia e sobrevivência das espécies, sejam plantas ou animais, que vivem em diferentes ambientes (ecossistemas) do nosso planeta.
Como biólogo, não deveria estar surpreso pelo fato do suprimento de proteínas a um povo, ou a qualquer espécie, ser o seu valor maior. Mas a maneira envolvente e brilhante do autor sintetizar seis mil anos de trajetória da humanidade, sendo o trigo o principal responsável pelo crescimento, manutenção e queda de grandes impérios, assombrou-me.
Lembrei-me de um experimento, feito por pesquisadores ingleses com roedores, sobre o comportamento animal frente aos recursos alimentares. Eles isolaram uma casa abandonada em uma área rural e soltaram nela alguns casais de ratos. Diariamente, colocavam, ali, sempre as mesmas doses de ração e de água, no início sempre superiores ao consumo. Havia harmonia e todos tinham suprimento e espaço à vontade. Logo aumentou a taxa de fertilidade das fêmeas e o número de filhotes explodiu. Em pouco tempo, o sustento começou a ficar impossível. A harmonia deu lugar à competição e ao caos, desencadeando o canibalismo. Os mecanismos da natureza, lendo os sinais de escassez, reduziram os hormônios sexuais nas fêmeas, desencadeando abortos e rejeição aos machos, até o número de indivíduos voltar a ser próximo do inicial, quando a oferta diária era suficiente para todos. E o ciclo reiniciou.
Alimento é tudo, e este rico cereal foi e continua sendo o principal grão a manter a fome sob controle. Imagine-se um mercado com as prateleiras vazias ou com racionamento de produtos. Logo estaríamos em guerra por uma refeição e sobreviveriam aqueles mais competitivos que conseguissem, de alguma forma, encontrar uma alternativa de proteína não convencional, seja vegetal ou animal.
O papel do trigo, na história, é bem conhecido. Quem o produz, domina ou é dominado. Quem o compra se subjuga ao vendedor ou invade seu território. Assim os romanos sobreviveram durante séculos de dominação oferecendo pão (e circo) ao povo e subjugando os produtores do Egito, o berço deste cereal domesticado e cultivado há seis mil anos. Ele ainda vai seguir escrevendo a história da humanidade, mesmo dissimulado. E não esqueçamos o exemplo dos roedores na casa inglesa: na falta do grão, instala-se o caos.