(viajando na poesia…)
Tido como um dos mais importantes livros de poesia do Brasil, uma das obras-primas legadas pelo Modernismo, “Cobra Norato e outros poemas” (Civilização Brasileira – 1975) de Raul Bopp traz, no entendimento da Editora, um “poema de raízes folclóricas que ultrapassa, no entanto, o pitoresco e o decorativo (…………..) na fronteira das terras compridas do Sem Fim”.
Do livro Cobra Norato… destacamos o poema abaixo,
QUADRO RURAL
Longe do interior sente-se o drama silencioso do homem
o horizonte traça os limites do mundo
o espaço físico se estira ante os seus olhos cansados
as distâncias o abatem.
Passam os tempos lentos…
A fisionomia rural continua a mesma com terras de baixo rendimento
a saúva tomou conta das lavouras
populações resignadas se acomodam num plano do deixa-estar.
Paisagem deprimida
com uma linha de mato mutilada a machado
João Candango subnutrido e apático senta-se à porta do rancho
pesa o silêncio entre os tições apagados.
A estrada se desenrola entre morros acocorados
sobem cargueiros lentos pelos aclives da serra
aparece lá em baixo um povoado desanimado
com uma cruz de madeira negra na estrada
para espantar o diabo.
Pasta na rua um cavalo coxo.
O vento varre as ladeiras
com os seus velhos muros descascados
mulher de sexo solto
foi morar na rua de trás.
Raul Bopp – poeta e diplomata – que faleceu a 2 de junho de 1984 no Rio de Janeiro, nasceu em 4 de agosto de 1898 na Vila Pinhal (no hoje município de Itaara), aqui no Rio Grande do Sul… a nossa terra!