O QUARTEL D’ABRANTES

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Abrantes é uma cidade portuguesa a 152 km de Lisboa. Em 1807 ela foi invadida pelo general Jean Androche Junot, do exército de Napoleão Bonaparte.
O general se autonomeou como Duque d’Abrantes. Ele encontrou a cidade praticamente sem governo, pois o príncipe regente Dom João VI e toda a corte portuguesa havia fugido para o Brasil. A sua tranquilidade no poder fez surgir uma expressão clássica.
Quando era perguntado como iam as coisas ele respondia: “Está tudo como dantes no quartel d’Abrantes”. Até hoje essa expressão é usada para indicar que nada mudou.
O Quartel d’Abrantes agora é em várias cidades do Estado. Dois meses após o início das enchentes, quase nada mudou em termos de reconstrução e atendimento às pessoas que foram afetadas.
Pessoas continuam em abrigos improvisados ou de favor em casas de familiares. Empresas demitiram funcionários e outras fecharam as portas. Aqui na região turística o movimento ainda é discreto pela realidade da situação.
Turistas de longe não conseguem vir pela falta de aeroporto e os turistas do Estado também foram em parte afetados. Enquanto voluntários, instituições privadas e empresas que conseguiram se manter se desdobram para atender os necessitados, a administração pública em todos os níveis parece perdida no emaranhado da burocracia.
Para piorar, pessoas que muito antes já eram atendidas pelas assistências sociais, vêm bater às portas em busca de auxílio. Estradas e pontes foram demolidas e ainda sem reinício de reconstrução. Ruas e estradas que não tinham sido afetadas começam a esburacar e se deteriorar com as chuvas insistentes, pela falta de manutenção regular. A recuperação e a reconstrução são parte dos discursos, que agora se acentuam pela proximidade as eleições municipais.
Os municípios são os entes federativos concretos. É onde tudo acontece. Estado e União são ficções jurídicas de organização política. Já são dois meses de promessas sem ver algo significativo em termos de recuperação. E quem sofre com tudo isso é a população que está fragilizada, pois todos foram atingidos de forma direta ou indireta.
Vidas, empregos, moradias e dignidade. Muito se perdeu. O que não se perdeu foi vergonha na cara de alguns políticos. Então “está tudo como dantes no Quartel d’Abrantes”.

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