A recente eleição para a Câmara de Vereadores de Canela marcou um momento significativo de renovação política no município. Com um total de 25.475 eleitores que participaram do pleito, os resultados refletiram um desejo claro de mudança e inovação na política local. A eleição contou com a participação de 114 candidatos, dos quais 11 foram eleitos para compor a nova legislatura. Destes, apenas dois foram reeleitos, indicando uma renovação de 81,8% na Câmara.
Entre os novos parlamentares, quatro representam a força jovem na vida pública. Eles são novos na política, mas não no amor por Canela. Muito bem votados e com muito comprometimento com seus eleitores, foram eleitos titulares da Câmara de Vereadores com votos até de pessoas que, admitem, não conheceram pessoalmente – muitas, mais velhas que eles. A aposta na força de trabalho de Rodrigo Rodrigues (PDT), Felipe Caputo (PSDB), Lucas Dias (PSDB) e Graziella Hoffmann (PDT), ao vir também de eleitores de outras gerações, é evidencia de que o valor do sangue novo na Câmara – misturado, por sua vez, com a experiência de outros colegas – tem respaldo.
Eles vão ajudar a legislar uma cidade com problemas pontuais, mas que exige soluções duradouras e relevantes, com soluções baseadas em muito estudo técnico e uso de novas tecnologias. É consenso que Canela é um diamante bruto, pronto para ser ainda mais lapidado. Esta força jovem tem formação superior e atividades profissionais que lhes garantem o sustento, independente da política.
Este cenário sugere um momento de transformação, onde novas ideias e perspectivas podem enriquecer o debate político e promover um ambiente mais dinâmico e diversificado.
Arregaçando as mangas à espera do início do mandato, Rodrigo, Felipe, Lucas e Graziela falaram com exclusividade ao Nova Época.
Graziela Hoffmann
A campeã nas urnas da última eleição faz parte da nova geração de lideranças no campo político em Canela. Graziela Hoffmann, 35 anos, é empreendedora e administradora de empresas. Sempre gostou de política e costumava assistir canais de televisão que repercutiam reportagens sobre política. “Nunca me vi candidata por vir de uma família de comerciantes. Não era um sonho de criança, mas acreditava que eu tinha perfil desde criança para a política”, conta ela.
Motivada em contribuir para tornar Canela uma cidade melhor para se viver e insatisfeita com o atual cenário político, ela resolveu disputar uma cadeira no Legislativo. Foi batendo de porta em porta, percorrendo todos os bairros e ouvindo os anseios de cada cidadão com quem ela se deparou, com uma extensão de problemas que existem em Canela, os quais a deixaram ainda mais convicta de que tomou a decisão correta ao concorrer. “É possível fazer, é possível mudar. Tudo é desafiador”, afirma ela. A internet foi uma aliada na busca por votos. “Fiz um trabalho na internet, sem produção, bem natural, que deu resultado”, comenta.
Grazi, como é carinhosamente chamada, entrou para a história de Canela tornando-se uma das candidatas à vereança mais votada nas eleições do município. Ela recebeu 1308 votos. “Eu tinha a expectativa de fazer uma boa votação, imaginava que estava no páreo. Fui surpreendida, mas estou muito feliz e grata”, destaca. Em seu mandato, Grazi não abre mão de defender o desenvolvimento sustentável, a retomada das fábricas, diversidade da matriz econômica da cidade e o resgate dos espaços públicos. Ela está ansiosa para poder colocar em prática a nova política. “Vamos colaborar para sermos uma ecocidade de fato, não somente no slogan”, ressalta. Entre as suas características pessoais, a determinação é um dos destaques. “Eu acredito em soluções técnicas, a nossa população precisa muito de pessoas bem intencionadas. A política é uma ferramenta de transformação”. O diálogo com a sociedade deverá ser uma das marcas do seu mandato.
Ela destaca que a troca de ideia e de informações pode contribuir para uma política qualidade. “Não existe política sem um grande debate com todos os setores”, opina Grazi. A vereadora eleita é nora do deputado federal, Pompeo de Mattos (PDT) e o tem como uma referência política, mas anterior a Pompeo, Grazi tem como exemplo, o saudoso Leonel Brizola. “Principalmente pela atuação dele (Brizola) na área da educação”, ressalta ela.
Lucas Dias
Lucas Dias é uma figura admirável, uma pessoa da comunicação. Com seu carisma, inteligência e poder de gestão, promoveu uma verdadeira revolução na tradicional Rádio Clube, de seu avô Pedro Dias, trazendo novas tecnologias e ampliando os negócios da rádio. Como presidente da Acic, seguindo os passos de sua avó Flavia Azevedo, atraiu uma nova geração para dentro da entidade, elevando a associação a outro patamar e abrindo caminho para o movimento de renovação na política que vemos hoje.
De garoto, ajudava na transmissão da rádio no escrutínio dos votos nas eleições pré-urnas eletrônicas, iniciando ali os primeiros contatos com a política. No alto dos seu 38 anos, Lucas é músico e atua também na área de produção de vídeos, além de ser a alma por trás da Rádio Clube. Lucas entende a política como um instrumento de mudança poderosa e acredita que nesta próxima gestão o resgate da credibilidade e da autoestima será uma arma na construção de novas parcerias e projetos de interesse comunitário. Suas principais bandeiras são o turismo e a cultura .
“A cultura é meu ganha pão, vivo de música” referindo-se à rádio. Como comunicador, entende que Canela precisa ser melhor divulgada externamente. Reconhece a importância de se buscar recursos de emendas parlamentares e Leis de Incentivo e enxerga “uma nova onda, novos ares” referindo-se a este novo momento político.
Lucas cita a questão de oferta de trabalho no município como um grande desafio: “ Nós não temos falta de mão de obra, temos falta de empregos locais”. Esta demanda, na sua opinião, passa pela ampliação do Distrito Industrial e incentivo ao desenvolvimento de novas matrizes econômicas.
A expectativa de trabalho na próxima gestão da Câmara é das melhores. Esta força jovem está comprometida em atuar de forma a um fortalecer o outro. Segundo Lucas, “a gente já combinou de brigar concordando” sabendo que os debates serão fortes e constantes, mas sempre com uma visão de construção de uma cidade melhor para toda a comunidade.
Felipe Caputo
Entre os quatro jovens vereadores eleitos, Luiz Felipe Caputo Taulois (PSDB), 38 anos, é o que tem mais experiência na vereança. Na eleição de 2020 ficou na suplência, mas exerceu mandato na Câmara devido à ida de Alfredo Schaffer para a Secretaria de Meio Ambiente. No pleito deste ano, Caputo conquistou 686 votos e elegeu-se vereador titular para a próxima Legislatura. Fisioterapeuta e profissional de Educação Física, ele tem como padrinho político o prefeito eleito, Gilberto Cezar, o qual o incentivou inclusive a concorrer a vereança. “Sempre reclamei de política. No passado, não gostava de política”, revela ele. Natural de Florianópolis, Caputo cresceu em Juiz de Fora em Minas Gerais. Ele reside em Canela há 14 anos. Ele veio à cidade pela primeira vez para visitar a mãe, que na época trabalhava como assistente social. Foi paixão à primeira vista e Caputo decidiu mudar-se para o município. “Vim e fiquei apaixonado pela cidade”, conta. O tucano defende principalmente questões referentes à saúde e ao esporte. A ampliação dos horários nos postos de saúde é uma das suas lutas. Para ele, “o político está em função do povo e não para si próprio”.
Caputo pontua que o problema da política é a politicagem. “É isso que mancha o político”, resume. Mesmo sendo de situação, o vereador promete sempre atuar em defesa das necessidades do povo. “A função do vereador é essa. É buscar a demanda do povo e levar para o Executivo, e o Executivo solucionar os problemas”, destaca. “Vou cobrar igual o prefeito (Gilberto Cezar) e todos os vereadores”, garante. Caputo pretende melhorar a relação institucional de Canela com o Palácio Piratini, além de apresentar projetos que possam contar com o apoio do Governo do Estado. O vereador está pronto para exercer um mandato com foco na ética e trabalho que beneficiem a população. “Não vou desapontar aqueles que votaram em mim e não vou perder a minha credibilidade”, ressalta.
Caputo está confiante que, juntamente com os outros três jovens colegas de plenário, desenvolverão um bom trabalho em prol da população. “É o início da mudança, uma mudança que está fazendo com que a gente tenha esperança em uma Canela melhor”, opina. Diferentemente de alguns anos atrás, Caputo compreende a política como uma oportunidade de fazer a diferença na vida das pessoas. “Hoje sou apaixonado por política. A política é a ferramenta que temos para mudar a vida das pessoas. A política tem o poder da transformação”, conclui Caputo.
Rodrigo Rodrigues
Administrador formado pela UCS, Rodrigo Rodrigues (29), aos 16 anos botou o pé na política de uma maneira mais efetiva do que simplesmente votando, opção dada a quem não quer esperar chegar aos dezoito. Ele se filiou a um partido, o PDT. Atitude coerente para quem já adorava política, já queria abraçá-la e curtia assistir à TV Senado. “Eu via com um certo respeito aqueles senhores se pronunciando”, diz ele, que agora prefere a TV da Câmara Federal. Este hábito, talvez, era o inconsciente de Rodrigo indicando que ele teria pela frente muito chão a percorrer na estrada da política. O primeiro grande passo ele está dando agora, no seu município.
À pergunta (recorrente para todos que vão assumir uma cadeira na Câmara) sobre em quais assuntos quer concentrar esforços, Rodrigo Rodrigues cita um problema que ele sabia que existia, mas vê-lo in loco o deixou alarmado: na sua campanha “orgânica, de contato direto e com gastos mínimos” (segundo ele), o vereador eleito viu muita gente vivendo em moradias em situação deplorável, a ponto de chegar a um local onde cerca de 25 pessoas dividiam o mesmo banheiro. Viu casas em áreas irregulares construídas com o que os moradores acharam, como latas desmanchadas e restos de madeira. “Problemas de segurança pública são uma das consequências de uma política habitacional que não está dando certo”, segundo ele. Habitação digna é para o estreante, então, um dos cavalos de batalha, mas ele sabe que doações e paternalismo não são a solução, mas sim a geração de emprego e renda que permita a alguém assumir uma prestação da sua casa, por módica que seja.
Rodrigues preocupa-se também com a situação de abandono de patrimônio público que já nos orgulhou, como o Centro de Feiras, para citar um. Considera fundamental a retomada de um calendário de eventos e prevê uma convivência positiva com todos na Câmara, pois, ele diz, “estamos começando uma nova forma de fazer política, buscando o debate, não o jogo de cartas marcadas”. Humilde, vai misturar a vitalidade reconhecida com os votos mas continuando a ouvir os conselhos de quem ajudou a guiá-lo, como Gilberto Tegner. Sabe que o eleitor é crítico e, face os últimos acontecimentos na política local, “não vai perdoar certas coisas”.
Sondado sobre a possibilidade de aceitar cargo dentro da Prefeitura, Rodrigo considera essa possibilidade um desrespeito a quem votou nele para servir justamente de fiscal e para brigar para que demandas sejam atendidas.