A Patagônia é uma extensa área de terras planas localizada ao sul da Argentina, comandada por fatores ambientais específicos e severos. Por ter sido, em um passado geológico distante, fundo de mar, mostra frequentemente fósseis de animais marinhos, muita areia e lagoas salgadas e a presença de ventos fortes, modeladores da forma e comportamento do local. Em dias de ventanias, que são muitos, tudo se complica no campo, nas cidades e povoados. O açoite é constante e, em algumas localidades, derruba a internet e outros serviços captados de satélites por antenas, por oscilarem e perderem o sinal. É o elemento ancestral sempre presente, afetando a vida e as tecnologias modernas.
A fauna está adaptada a esta situação adversa, abrigando-se em depressões do terreno e alimentando-se de plantas, sementes ou predando. Na Ruta 3, uma longa estrada iniciada em Buenos Aires, que segue pelo litoral até o Ushuaia, na Terra do Fogo, vi fauna atropelada nas estradas, atestando a boa diversidade de animais destas planícies, apesar do rigor do clima. Graxains, zorrilhos, tatus, emas pequenas (choiques), lebres, coelhos, corujas e guanacos foram os frequentes. As emas e guanacos são grandes e podem provocar acidentes quando colidem com os veículos.
As plantas daqui são pequenas e arredondadas nas suas copas em função do vento, da baixa fertilidade dos solos e da pouca água disponível. Se fossem muito altas, seriam derrubadas ou arrancadas, então se adaptaram, reduzindo o tamanho. Até os cata-ventos de bombar água para reservatórios, são baixos para não serem arrancados. Como o solo é pobre, arenoso e seco, as plantas mantém-se separadas umas das outras, buscando diminuir a competição entre elas.
Os rios e arroios são, muitas vezes, temporários. Passei por inúmeras pontes com leitos secos e apenas os maiores rios daqui, como o Grande, o Chubut, o Negro e o Deseado, são perenes e com boa quantidade de água o ano todo. Nas margens destes rios se desenvolve uma vegetação exuberante que abriga, naturalmente, uma maior diversidade de fauna.
As estâncias daqui criam ovelhas para extração de lã e produção de carne, de onde vem um famoso prato regional típico – o cordeiro patagônico, servido em praticamente todas as cidades por onde passei.
Viver na Patagônia exige adaptação e determinação, tanto da fauna e da flora, como dos nativos existentes antes dos espanhóis chegarem e colonizarem o lugar. O nome da região é derivado de uma tribo de índios de grande estatura, naturais destas planícies, considerados gigantes com dois metros de altura. Seus pés grandes, segundo os relatos dos exploradores, originaram o nome Patagônia, ou terra dos índios de pés grandes. Hoje, extintos, os patagones deixaram para os conquistadores a mesma terra hostil, difícil de ser domada mesmo com a tecnologia atual. Interromper a comunicação, determinar o tamanho e a forma das plantas, exigir adaptação do homem e da fauna é ainda atribuição do vento, mais velho que todos, mandando seu recado: nesta terra eu sou o comandante e jamais serei colonizado.