É difícil ignorar o impacto de um muro pichado, uma escultura depredada ou um teatro abandonado. São cenas que, à primeira vista, despertam revolta e desolamento. Mas, por trás do aparente desmonte, é possível enxergar um paradoxo instigante: enquanto alguns ocupam espaços culturais com vandalismo (como aconteceu na última segunda-feira em um vídeo que circulou nas redes sociais de adolescentes que entraram e invadiram o Teatro Municipal em Canela), outros tentam reocupar esses mesmos locais com arte, história e identidade.
O vandalismo em patrimônios públicos e culturais é uma manifestação que, embora destrutiva, muitas vezes reflete uma sociedade desconectada de seus valores culturais. Afinal, o que motiva alguém a pichar um prédio histórico ou destruir um monumento que simboliza a própria identidade local? O abandono. Espaços culturais negligenciados, sucateados e deixados à mercê do tempo e da indiferença tornam-se, ironicamente, alvos mais fáceis de quem busca se expressar à força.
Mas e se essa ocupação pudesse ser ressignificada? E se, ao invés de ignorar um teatro sucateado, investíssemos nele como palco para novas vozes? Essa é a ideia de uma verdadeira “ocupação cultural”: revitalizar, transformar e devolver os espaços culturais à comunidade, mas de forma consciente e inclusiva. Parece que a nova administração em Canela, está realmente preocupada com isso, pois após o vídeo, visitou os três espaços culturais da nossa cidade que há muito, carecem de um olhar atencioso e comprometido.
Para que isso aconteça, é essencial construir pontes entre o poder público, a iniciativa privada e a população. Programas de revitalização, que unam recursos governamentais e patrocínios de empresas, podem transformar ruínas em centros culturais vivos e dinâmicos. Projetos que valorizem a memória local e incluam a população em ações de conservação criam um senso de pertencimento, tornando o vandalismo menos atrativo.
Exemplos não faltam. Várias cidades ao redor do mundo mostraram que o abandono pode ser revertido em efervescência cultural. Assim, cabe a todos nós – sociedade civil, governos e empresas – decidirmos como desejamos ocupar nossos espaços culturais. Se a escolha for pela revitalização, pela ressignificação e pela valorização da arte e da história, então estaremos, de fato, transformando o vandalismo em potência criativa e a ruína em renascimento. O palco está montado. Agora, é hora de colocar a cultura em cena!