Nesta Páscoa, entre as prateleiras vazias de chocolate e os parques de estacionamento a transbordar, fomos, mais uma vez, lembrados do que este feriado significa: filas – no trânsito, no supermercado, na alma. Era para ser tempo de silêncio. De contemplação, talvez. Mas o feriadão prolongado chegou como chega sempre: malas feitas às pressas, correria e autoestradas transformadas em desfiles de impaciência.
A morte recente do Papa trouxe um silêncio estranho ao Vaticano e um eco barulhento às redes sociais. Muitos pararam para refletir; outros seguiram a rolar, entre vídeos, memes e a nova temporada de The Chosen – Última Ceia, onde a vida de Cristo é contada de forma mais humana e com emoção cinematográfica. Mas a pergunta persiste: em que você acredita?
É fácil ter fé quando tudo corre bem. Mas quando a conta não fecha, quando a saúde falha, ou quando o mundo parece ruir entre guerras, crises e perdas… onde se busca conforto? Só aí lembramos que precisamos de um caminho. Não um desvio, mas uma direção. Fé, nesta era de excesso, tornou-se resistência. Não de dogmas ou fórmulas prontas, mas daquela esperança teimosa que nos faz levantar todos os dias e que não está em promoção.
A Páscoa, no fundo, não é só sobre um Cristo que ressuscita. É sobre a nossa capacidade de renascer, apesar de tudo. E talvez, só talvez, a fé seja isso: saber que, mesmo em dias escuros, há sempre uma luz que nos guia. Seja ela em Deus, numa oração simples, ou no abraço de quem amamos. Que bom que tivemos a maior lotação dos últimos tempos e que as vendas superaram outros anos. Mas que a gente não esqueça que além de bater meta de venda, público, atrações entre buzinas e sacolas de compras, a gente ainda consiga manter a fé no que nos sustenta – seja ela no divino, no outro ou em nós mesmos – afinal é o único mapa que faz sentido quando o trânsito da vida parece não andar.