Fotos: Vitor Hugo Travi
Andei, recentemente, pela praia de Arroio Teixeira num raro bom dia de outono, com sol e sem vento. A ausência quase total de pessoas mostrava, de maneira surpreendente, um cenário encantador, diferente daquele encontrado nos verões ensolarados. Na areia das dunas, sinais de atividades da madrugada ou do dia anterior, sugerindo a forte presença da fauna pelos morros de areia. Pequenos animais denunciavam sua presença pela forma dos montículos de areia deixados durante o seu deslocamento subterrâneo, parecendo uma longa e fina serpente morta.
Os tuco-tucos arejavam suas galerias fazendo a remoção da areia que bloqueava a entrada aguardando a melhor hora de pegar algum ramo para alimentação e, em seguida, fechar a casa com sua porta de areia. O vento também deixou seus rastros fazendo garatujas na areia ao balançar os ramos do capim de hastes longas, parecendo escrever algo. Um surfista solitário alongava a musculatura antes de entrar em busca da onda perfeita. Nas águas rasas de um pequeno arroio, apareciam as marcas deixadas pelo movimento da água em direção ao mar, ondulando a areia e criando um desenho abstrato de mil formas, mas todos obedecendo um princípio lógico.
A passarela vazia mostrava a época do ano, quando o vento e areia dominam o local. Na beira do mar, o depósito marrom escuro de um excesso de algas, formava o típico “chocolatão”, uma característica do mar quando entra a corrente das Malvinas, rica em nutrientes, ocasionando a super população destes micro-organismos. As marcas deixadas na areia, quando a onda recua, podiam ser interpretadas de várias formas, como sendo uma oferenda, uma cortina de rendas ou o derramamento de uma lata de tinta. Cada qual usa a sua imaginação.
A menina solitária olhava a imensidão de água a sua frente e podia estar pensando no mistério daquele mundo, dos bichos e lendas do imaginário dos navegadores. Ela procurava pelo pai, um surfista de ondas frias e ricas em algas, que galopava as cristas efêmeras e ruidosas trazidas pelo vento, desmanchando-se e pintando a areia com caricaturas aleatórias. Uma praia vazia está cheia de sinais.