Hoje escrevo minha primeira coluna após o início desta tragédia que se estabeleceu sobre o nosso estado. Impossível imaginar que viveríamos um desafio ainda maior do que vivemos na pandemia de COVID 19, mas estamos vivendo! Apesar de todo o temor que nos abate com essa enchente horrorosa, confesso que estou otimista. Sei que passaremos por uma crise terrível, que teremos uma tarefa de reconstrução gigantesca. Entretanto, o despertar do povo gaúcho e a sua reorganização em função deste acontecimento é marcante e definitiva. A partir do momento em que nos demos conta da gravidade da situação, um movimento espontâneo aflorou e se espalhou entre a grande maioria das pessoas. Mesmo sem saber muito bem o que fazer, nos organizamos e iniciamos, da forma que podíamos, um processo de, naquele primeiro momento, sobrevivência. Cuidando dos nossos irmãos desabrigados, resgatando pessoas, animais, estruturando abrigos e tentando também entender o que se passava. Eu jamais vou esquecer a cena que presenciei ao chegar a Igrejinha e Três Coroas. O cenário de destruição, sujeira, lodo e a perplexidade das pessoas. Chegávamos nas casas e as pessoas tentavam, sozinhas ou em pequenos grupos, limpar uma quantidade inimaginável de lodo, restos de móveis e eletrodomésticos, latas, garrafas, tudo! Não precisamos de muito tempo para entender o que precisávamos fazer e vimos que era limpar, limpar e limpar. Iniciamos por casas e depois nas escolas, postos de saúde, tudo. Hoje a situação está longe do ideal, mas as pessoas já conseguem vislumbrar um futuro. Suas casas estão limpas e já começam a receber as primeiras doações. Isso tudo em um trabalho voluntário, onde cada um, dentro de suas possibilidades, doa seu tempo, sua força física, intelectual ou psicológica. Temos ainda um longo caminho pela frente. A imensa maioria dos lares afetados aqui no Rio Grande do Sul, segue debaixo de água ou impossibilitados de serem limpos, ocupados ou reconstruídos. Também precisamos recuperar a infra estrutura de estradas, hospitais, postos de saúde, escolas. Temos de cuidar dos negócios para que as pessoas tenham emprego e dignidade. O nosso turismo também precisa ser retomado aqui em Canela e Gramado, mas isso demanda que saiamos desta calamidade inicial. Entretanto uma certeza eu tenho. Não sei se em dois, dez ou vinte anos, mas olharemos para esses dias e perceberemos que vivemos um ponto de virada. Seremos uma sociedade mais próspera, mais humana, mais unida e melhor. Nosso estado nunca mais será o mesmo, nossos filhos nunca mais serão os mesmos. E isso me conforta e me faz seguir em frente.
GESTÃO DO HOSPITAL DE CANELA
Esta semana tivemos o desprazer de acompanharmos mais uma operação policial envolvendo o Hospital de Canela. Devo confessar a vocês que não me surpreendi. Não que eu soubesse ou suspeitasse de algum dos envolvidos, pelo contrário. Na verdade, eu não me surpreendi pois, apesar do discurso externo da administração municipal, de que a intervenção está sendo algo diferente, na verdade não passa de mais do mesmo. A politização do hospital não é algo novo. Na verdade ela é um problema de décadas em Canela e que passa por governos de vários partidos. Infelizmente todos sucumbem a tentação de manter o controle político do hospital. Para os políticos, que raciocinam muito pensando no voto, fica muito cômodo ter o controle do hospital. As pessoas tendem a associar a solução de seus problemas a uma pessoa, especialmente na saúde. Elas não tem o entendimento de que o SUS é publico e que temos direitos iguais perante ele. Acontece que, invariavelmente, os agentes políticos se valem de uma “liberação” de exame, de um telefonema agilizando uma consulta, de um contato que facilite uma internação, etc. Isso rende votos e capital político. Por isso essa dificuldade de largar o “osso”! Sabemos que esse tipo de facilitação é ilegal e, quando comprovada, gera operações policiais e punições aos agentes políticos. Por isso essa recorrência de escândalos dentro do hospital. Enquanto os governantes não profissionalizarem a administração do Hospital, isso irá seguir, infelizmente. A solução da intervenção, que deveria ser provisória, se tornou permanente em Canela. Posso atestar isso, pois faço parte do Conselho Fiscal do Hospital. Nunca ouve um plano para sanear o hospital e entregar ele de volta para um ente privado. A intervenção apenas facilitou a injeção de recursos e removeu controles e mecanismos de auditoria das contas do Hospital de Canela. Torço para que agora nosso prefeito mude o foco do e passe a realmente buscar o saneamento do hospital e sua profissionalização na gestão. A política dentro do hospital pode ser um benefício temporário, mas no longo prazo destrói a credibilidade dos governantes.
FELIZ DIA NOVO!
Nas festas de fim de ano eu sumo. Minha bateria social termina e junto com isto uma melancolia toma conta da minha pessoa. Datas comemorativas são de uma lindeza total, mas no meu dia a dia já não ocupam espaço. Talvez a maturidade tenha me ensinado a comemorar a beleza de todos os dias. Talvez as perdas tenham me ensinado a valorizar cada segundo.Aniversário, dia do pai, dia da mãe, Páscoa, Natal e Ano Novo transformei em boas lembranças, que procuro resgatar diariamente. Desde a hora em que acordo, até a hora que durmo eu busco celebrar o fato de continuar respirando, me movimentando. Eu celebro as alegrias e as tristezas. Respeito cada fase. Contemplo as lágrimas e os sorrisos. Tudo têm sua razão de existir na vida. Não comemoro datas. Comemoro o respirar.Nos últimos vinte dias me permiti uma pausa, depois de quase 15 anos sem férias. Confesso que o plano desejado foi quase um desastre. Percebi que parar e descansar é assunto sério e precisa também de planejamento. Como parar? Como descansar? O que se faz? Apenas dormi, me alimentei, cuidei do jardim, li livros e assisti séries e filmes. Não vi pessoas. Até na natação dei um tempo.Não sei dizer se isto é o mais adequado, mas estes dias, onde estive totalmente fora do mundo, consegui prestar na maneira como eu respiro e como enxergo o universo ao meu redor. Existe um caos ali fora, mas existe também a beleza no meu entorno. Quando mantenho minha casa limpa, e cuido do jardim, é a beleza que busco. A harmonia, que é absorvida pelos olhos, fortalece meu espírito, e assim recomponho uma respiração que foi abalada por sucessivas crises de ansiedade no último ano.Mágoas, decepções acontecem nos dias comuns e viram gigantes nas datas comemorativas. Não se esquece a dor, mas se transmuta aquilo que machuca. Devolvo a agressividade dos atos em silêncio e cuido dos meus ferimentos. O ano de 2024 está começando no calendário. No meu espírito ele recomeça todos os dias, com sol ou cerração. A possibilidade de respirarmos pausadamente é que faz tudo ser novo. Feliz dia novo!