Ontem, 20 de março, iniciou o outono no hemisfério sul do planeta. O calor sufocante se esfiapa, cores novas surgem na paisagem, dias encurtam e noites se alongam, roupas leves cedem lugar nos armários, o ar frio estimula novos projetos e a vida toma outro impulso. As altas temperaturas do verão ou agradam ou desagradam, pois não somos iguais, e acabam ficando na lembrança. No horizonte, a Páscoa vem surgindo como o novo período a ser comemorado, fato evidenciado no surgimento da decoração das ruas e na preparação do comércio para a venda de chocolates.
Na natureza, também se verificam mudanças marcantes. O pinhão é um dos principais indicadores desta nova estação e, a partir de primeiro de abril, deve começar o amadurecimento e a comercialização das variedades precoces. Festa no mato, festa nas estradas com suas casinhas fumegantes onde se oferece o pinhão cozido ou cru. Revoadas de bandos de papagaios começam a ser vistas e ouvidas diariamente, quando estes psitacídeos buscam seu alimento no alto dos galhos das araucárias, iniciando um período de fartura quando armazenam energia para atravessarem o inverno e o período reprodutivo na ainda distante primavera.
Paçoca de pinhão passa as ser um prato comum nas casas e restaurantes, seja com uma boa linguiça ou com charque de traseiro. Assado na chapa do fogão, cozido na água ou sapecado em uma fogueira no mato, o pinhão vai entrando na cadeia alimentar humana e cedendo sua energia, assim como faz com todos os outros animais do sistema natural, sem discriminação.
As quaresmeiras já florescem e enfeitam matas e jardins com suas flores tricolores, cogumelos despertam nos matos e campos, sabendo ser este o melhor período para libertarem suas “sementes”, conhecidas como esporos. Tão pequenos, leves e abundantes, espalham-se por tudo em volta pegando carona com água, vento ou a pele de qualquer animal em trânsito por perto. Esta estratégia garante a disseminação das espécies para áreas distantes do local original, facilitando o surgimento de novos fungos aqui, ali ou acolá. No campo e nas beiras de estradas, a macela começa a amarelar e a exalar seu suave e intrigante perfume, lembrando o amargo chá curativo das indisposições estomacais.
A nova estação muda os hábitos na cidade e no campo, trazendo um ciclo de clima favorável à vida ao ar livre, contemplando caminhadas, bares nas calçadas, vinho tinto, cogumelo e pinhão. Um saludo ao outono e suas delícias.
